quinta-feira, setembro 28, 2006

Mais leve.

1.
Andava mais pesada que uma betoneira. Todos os dias era a mesmíssima coisa. Voltas e mais voltas e íamos dar sempre ao mesmo sítio. Aquele filme não era o meu. Não dependia de mim quebrar o ciclo, ainda que esperassem que o fizesse, porque sou a frila, porque sou de fora, porque sou fresca. Como se eu fosse a infantaria, a carne de canhão, o batedor que abre caminho para quem vem, confortavelmente, mais atrás, não ter de se incomodar.

2.
Sou desbocada, sou pouco diplomática, separo completamente o pessoal do profissional, e ao fim de alguns bojardos profissionais, quem insiste em posições pessoais levou, com certeza, alguns encontrões. Ele diz-me que é isso que espera de mim, que faz parte do meu charme profissional. Eu respondo que só o faço porque não tenho nada a perder, excepto o meu tempo, e isso é o mais valioso.

3.
Não quero saber de amizades e incompetências. Prefiro afinidade e competência. Não aceito "achismos", prefiro "palpites informados". Gosto de discutir ideias com quem tem experiência e mente aberta, com quem é inteligente e com quem realmente se interessa. Trabalho sem filtro, penso sem filtro, falo sem filtro, para ter mais o que filtrar depois. Gosto de sentir a energia a fluir. E as ideias também. Gosto de ensaiar soluções. Especialmente, gosto de chegar às soluções. Mas temos de estar todos, e não só um ou só outro.

4.
Gosto muito do trabalho que faço. É uma merda em três actos e contribui pouco ou nada para a paz mundial, mas tenho paixão pelas palavras e por torná-las apetecíveis juntamente com a banha da cobra que embrulham. Gosto mesmo muito.
Curiosamente, nunca fui estagiária. Vim do outro lado da mesma moeda. Confiaram em mim e atiraram-me aos lobos. Sempre me dei bem com os canídeos. Não lhes mostro medo (não resulta da mesma forma com algumas pessoas). Sou intuitiva e gosto do que faço, gosto da matéria prima, gosto das ferramentas e gosto do trabalho em equipa. Gosto de gostar do resultado.
Quem trabalha por gosto aprende rápido, pensa rápido, trabalha melhor. Eu sou assim, e continuo a achar que ainda tenho tudo para aprender. Também é preciso ter vocação. E isso é coisa que não se ensina.

5.
Hoje estava decidida a virar as costas e a fazer uso da liberdade que me caracteriza. É dos poucos privilégios que me restam. A liberdade de expressão e a de movimentos. A primeira estava a ficar gasta e sem resultados. Restava a segunda. Ir e não voltar.
Felizmente, conversámos. Espero que não tenha sido só conversa.

6.
Porque eu já carrego o meus próprios sonhos, não tenho de carregar o dos outros. Se cada um carregar o que lhe compete, é mais leve para todos.