domingo, junho 25, 2006

Tudo acontece por uma razão.

Confesso que ando com pouca vontade de escrever. E ando com pouca vontade de escrever porque ando com baixo nível de estímulos. Isso deve-se ao elevado número de horas de sono que venho acumulando nos últimos dias. Durmo mais do que achei que seria possível e descobri que dormir o dia todo não impede que eu durma a noite toda.
Tudo acontece por uma razão.
Cheguei de Lisboa incomodada. Não havia realmente uma causa a apontar, mas sentia um mal-estar generalizado, uma desadequação, uma inquietação cansada. Sentia-me intoxicada.
Não seria do stress, porque sendo Lisboa uma cidade stressante, tenho conseguido evitar esse factor com algum sucesso, até porque acho que até o sei gerir benzinho. Seria talvez da poluição. Há muita poluição em Lisboa: o ar é poluído, a terra é poluída, a vibração é poluída. Há poluição emocional também. Muita coisa acontece ao mesmo tempo, em códigos que não são os meus, suscitando muitos mal-entendidos, o que me obriga a um sobressalto constante numa curva de aprendizagem que é difícil partilhar. Estava a ficar de rastos e nem sabia como, porquê ou o quanto.
O meu corpo estava a pedir-me um retiro. Quando cheguei a casa, foi um caso de matter over mind, em vez do usual contrário. Nos primeiros dias, devo ter dormido umas 36 horas. Nos dias seguintes, o tempo que estive acordada foi o tempo que estive fora de casa e não foi assim tanto. Os amigos... pois, agora não. Não me tem apetecido ligar a ninguém, nem contar novidades a ninguém, nem responder que o curso está acabar e que, não, ainda não tenho perspectivas de emprego, e que não, não vou voltar para o Porto, e que a única certeza que tenho é que faço planos para meia hora e até esses são reajustáveis. Porque, depois, a conversa fica por aí. Não quero que me falem da desmotivação que envolve o Porto neste momento, não quero que me perguntem sobre Lisboa, não quero que me perguntem porque não venho mais vezes cá acima, não quero que me peçam para voltar, não quero animar ninguém, não quero que me lancem amarras, não quero que me vejam como uma gaja corajosa nem como uma coitadinha.
Hibernei, se quiserem.
Neste momento, estou a abastecer baterias recorrendo apenas a mim mesma. Não vampirizo ninguém. Fico só comigo e com duas cadelas muito ciumentas uma da outra.

Estava a contar voltar esta semana para Lisboa.
Não posso voltar, mas descobri que vou precisar de toda a energia e horas de sono que venho acumulando.
Lá está.

6 Comments:

Blogger Bionico said...

Fazem-me falta essas horas de sono extra que tens tido. Não gosto de Lisboa. Muito despersonalizada. Ao contrário de ti, eu quero regressar, mesmo sabendo que a vida, em termos profissionais, é mais dificil cá.
Se os amigos o forem mesmo, compreenderão essa tua hibernação.

domingo, 25 junho, 2006  
Blogger S. said...

Tu és do Porto e estás em Lisboa também?
Trocamos sempre o "cá" e o "lá". :)

domingo, 25 junho, 2006  
Blogger Bionico said...

Não sou do Porto, mas prefiro o Porto a Lisboa. Sou do berço da nacionalidade. E sim, já começo a trocar o "cá" pelo "lá" porque regresso todos os fins-de-semana à terra santa. Tanto escrevo cá como lá.

domingo, 25 junho, 2006  
Blogger S. said...

De volta ao "Berço" todos os fins de semana? Isso não só te fica caro, como é muito cansativo.
Experimenta vir só de 15 em 15 dias, ou até 3 semanas para dares mais tempo a Lisboa, passeares por lá ao fim de semana quando a cidade está mais calma e veres aquilo que ela também tem de bom.
Com tanto vai-e-vem, entendo bem a tua resistência.

domingo, 25 junho, 2006  
Blogger Bionico said...

É dificil ficar cá quando não se conhece ninguém e os seus habitantes não têm o minimo interesse em conhecer "estrangeiros".
Como não sou dos que bebe e posteriormente, apanha a sua pielazita, o contacto, mesmo que embriagado não se faz.
Na noite ninguém gosta de sobrios. E de dia, eles gostam é do teu dinheiro.
A cidade tem muito para oferecer, isso é inegavel e, noutras circunstancias, se ainda fosse estudante universitario, certamente, adoraria viver cá.
Agora é dificil.

segunda-feira, 26 junho, 2006  
Blogger S. said...

Entendo-te.
Mas, sabes que o facto de te ires embora todos os fins de semana tb faz com que as pessoas n contem contigo.
Eu fiz um ou dois amigos no meu curso, conheci uma ou outra pessoa pelo blog, e tenho a sorte de estar a dividir uma casa com gente excelente. Também existem algumas pessoas que já conhecia do Porto que estão agora em Lx.
Sabes, quando começamos a conhecer pessoas em Lisboa, começamos a apercebermo-nos de que toda a gente conhece alguém que conhece alguém que nós conhecemos.
É verdade que não nos podemos apegar, mas isolarmo-nos é pior ainda.

segunda-feira, 26 junho, 2006  

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