Doido #2
Ah, tens um piquinho a estranho, a azedo, com um toque de sinistro. A tua cabeça parecia espetada num pau de vassoura com cabelos de mopa e a expressão de uma marioneta. És o senhor dos atilhos e dos fios, manipulador exímio de ti mesmo, nem tanto de quem te rodeia. Falas de forma encriptada, mas tão cristalinamente simples, que de tão dissonante se torna até coerente. O sim é não, o que faço é faço sempre, e no coração não existe um sentimento especial, mesmo que o resto do mundo saiba que não é verdade. Mentes-te e queres que te descubram, mas és tão evidente que ficas mal na figura. Andas nú e pensas que estás vestido, de farpela ou até armadura, mas és de um transparente que se deseja opaco. Quando eu aceito o teu jogo e digo que sim, que acredito, que vejo o que tu mostras, acedendo à cegueira que te convém, tu logo viras o bico ao teu próprio prego e te desnudas para que eu te veja. Porque queres que te veja, nem que seja a última coisa que vejo quando me apontas o cano à testa e apertas o gatilho da tua pólvora seca.
É um farsante, numa comédia sem graça, e ocupas todo o palco e a plateia também. Estás sózinho com o teu eco e só com ele te sentes acompanhado. Bem hajas, que bem precisas.
É um farsante, numa comédia sem graça, e ocupas todo o palco e a plateia também. Estás sózinho com o teu eco e só com ele te sentes acompanhado. Bem hajas, que bem precisas.
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