segunda-feira, junho 14, 2004

Segunda feira depois do jantar.

Estou no meu quarto e não tenho nada para fazer. Pelo menos nada que me preencha o espírito. Há muitas coisas que me ocupariam o corpo, maquinalmente movido por uma obrigação de arrumação cínica que não acrescenta nada à minha vontade. Procuro algo que me ajude a procrastinar até para não fazer nada. Tenho vários livros apenas meio lidos...perco o interesse logo à primeira interrupção. A televisão é apenas um electrodoméstico. Olho para o computador e não me puxa. Está sem net. Um imac sem net é contranatura. Podia sair, mas já conheço as ruas todas. Podia ir a algum lado, mas não me apetece ir sózinha, embora também não queira levar ninguém. Pode ser que o sono chegue. Eu sei que não vai chegar já. Penso em todas as pessoas a quem poderia ligar, mas nenhuma me atrai. Nenhuma ia entender que estou apenas a fazer um telefonema e não um convite, não uma declaração, não um pedido de atenção. Seria apenas um telefonema para que a pessoa me dissesse de si, me contasse o que tem feito, me fornecesse algumas imagens mentais diferentes das que já tenho. Pego no moleskine e escrevo sem convicção. E assim não tem interesse.
Telefono ao meu melhor amigo, só para mandar um beijinho. Ele sabe que é só isso. E ele também não quer que eu desligue. E isso é bom. Costumávamos encontrarmo-nos sempre às segundas feiras à noite para assistir às "anedotas". Mas até isso já perdeu a piada. E a televisão voltou a ser um electrodoméstico. Hoje não vamos estar juntos porque ambos temos de trabalhar amanhã cedo. E porque a gasolina é cara e porque nem a mim, nem a ele, apetece fazer seja o que for, ainda que apeteça fazer alguma coisa.