Lisboa à margem.
Lisboa é uma cidade cheia de obstáculos.
Cada vez me convenço mais disso. Aqui a qualidade de vida paga-se mais, porque começa bem mais acima.
Tenho a sensação que quem construiu Lisboa começou por colocar os obstáculos, só depois construiu as casas e as estradas à volta.
O declive imenso do terreno, a desconsideração pela condição humana e pela facilitação da vida em geral. Os hospitais são decrépitos, as mesas dos cafés parecem mais as das cantinhas onde toda a gente tem de partilhar o espaço e misturar o sabor de uma meia de leite com o belo aroma de uma isca acabada de fritar, as ruas... (ver post seguinte), as esplanadas são roubadas à praia ou aos molhes, e até escarafunchadas debaixo do muro da marginal...
A propósito da marginal de Cascais, tomemos este exemplo. Ainda lá estive ontem.
Um pedaço de paisagem lindíssimo, fabuloso para ser disfrutado.
:)
O que é que fazem estas almas mouriscas?
:/
Espetam-lhe, mesmo junto à linha de água, com uma linha de comboio e uma estrada de tráfego intenso, perigosíssima, que ninguém pode atravessar a pé, e onde, ÓBVIAMENTE, muitos condutores se estampam.
As casas, prédios, moradias (as PESSOAS) ficam do OUTRO lado da estrada, isoladas como ilhas, com a vista de mar, sim, mas reféns da estrada perigosa mesmo ali em frente. Tão perto e tão longe. Como se a vista de mar fosse uma miragem, uma coisa para ver, mas não para disfrutar. A intenção aqui parece ter sido a de castigar algo que seria naturalmente agradável, fruível, e obrigar a um sacrifício penoso, e ainda por cima, um sacrifício pelo qual se pagam fortunas.
O que deveria ser simples, como chegar a casa, e ir de casa à praia, é uma jincana! Mais complicação, mais sacrifício, mais soluções enjeitadas em torno de uma autoestrada com vista de mar!!! É estúpido!!
Lá de onde eu venho, a província, seja Porto, Gaia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim (para citar os exemplos que conheço melhor) as marginais são para passear. Ali, onde o ar é fresco e cheira a maresia, e o sol se põe e a paisagem lava a alma, passeia-se.
PASSEIA-SE, não se COMUTA.
A pé, de bicicleta, de carro, até, mas a 30km/h.
Há lombas e passadeiras de peões e prioridade às pessoas e às bicicletas. E há estacionamento, e árvores e cafés, e esplanadas e parques de skate e jardins e fontes e estátuas e bancos de jardim. Estão a ver Belém? Pois, é assim, mas sem aquele stress da 24 de Julho, ou lá como se chama aquele pedaço de estrada. Por quilómetros e quilómetros e quilómetros... É disfrutável, entendem? DU-UH!!
As principais vias de acesso (linhas de comboio, autoestradas e IC's, aquelas que acusam o Cavaco de ter construído e que não vão para lado nenhum - vão, existem e são muito úteis, mas não se vêem de Lisboa) passam AO LARGO, onde não ameaçam a qualidade de vida das localidades (pronto, houve lavradores que se queixaram um bocadito).
Numa marginal (feita por gente e para gente), a estrada (não é estraaaaada) não tem mais de quatro metros de largura, pode ser atravessada em qualquer ponto e tem passeios largos. As moradias caríssimas, que pagaram pela localização, usufruem da localização, e ficam mesmo ali do outro lado da rua, em frente à praia ou ao rio, a fazer inveja a quem passa. É seguro para as crianças atravessarem a rua e irem brincar para a praia ou o jardim da marginal, sem terem de passar por túneis escuros e mijados ou passagens superiores intransponíveis para pessoas de mobilidade reduzida.
Gosto de estar em Lisboa, mas que é uma cidade construída à portuguesa no pior sentido, é mesmo!
Antes da Expo98, aquele magnífico pedaço de margem de rio era ocupado por fábricas, gasolineiras e armazéns!!! E agora, que descobriram a pólvora, um metro de chão está ao preço do ouro.
Vão-se lá chamar capital, mas definitivamente, é Lisboa que vive à margem da província.
(Desculpa, Jorge, eu tinha de postar isto)
Cada vez me convenço mais disso. Aqui a qualidade de vida paga-se mais, porque começa bem mais acima.
Tenho a sensação que quem construiu Lisboa começou por colocar os obstáculos, só depois construiu as casas e as estradas à volta.
O declive imenso do terreno, a desconsideração pela condição humana e pela facilitação da vida em geral. Os hospitais são decrépitos, as mesas dos cafés parecem mais as das cantinhas onde toda a gente tem de partilhar o espaço e misturar o sabor de uma meia de leite com o belo aroma de uma isca acabada de fritar, as ruas... (ver post seguinte), as esplanadas são roubadas à praia ou aos molhes, e até escarafunchadas debaixo do muro da marginal...
A propósito da marginal de Cascais, tomemos este exemplo. Ainda lá estive ontem.
Um pedaço de paisagem lindíssimo, fabuloso para ser disfrutado.
:)
O que é que fazem estas almas mouriscas?
:/
Espetam-lhe, mesmo junto à linha de água, com uma linha de comboio e uma estrada de tráfego intenso, perigosíssima, que ninguém pode atravessar a pé, e onde, ÓBVIAMENTE, muitos condutores se estampam.
As casas, prédios, moradias (as PESSOAS) ficam do OUTRO lado da estrada, isoladas como ilhas, com a vista de mar, sim, mas reféns da estrada perigosa mesmo ali em frente. Tão perto e tão longe. Como se a vista de mar fosse uma miragem, uma coisa para ver, mas não para disfrutar. A intenção aqui parece ter sido a de castigar algo que seria naturalmente agradável, fruível, e obrigar a um sacrifício penoso, e ainda por cima, um sacrifício pelo qual se pagam fortunas.
O que deveria ser simples, como chegar a casa, e ir de casa à praia, é uma jincana! Mais complicação, mais sacrifício, mais soluções enjeitadas em torno de uma autoestrada com vista de mar!!! É estúpido!!
Lá de onde eu venho, a província, seja Porto, Gaia, Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim (para citar os exemplos que conheço melhor) as marginais são para passear. Ali, onde o ar é fresco e cheira a maresia, e o sol se põe e a paisagem lava a alma, passeia-se.
PASSEIA-SE, não se COMUTA.
A pé, de bicicleta, de carro, até, mas a 30km/h.
Há lombas e passadeiras de peões e prioridade às pessoas e às bicicletas. E há estacionamento, e árvores e cafés, e esplanadas e parques de skate e jardins e fontes e estátuas e bancos de jardim. Estão a ver Belém? Pois, é assim, mas sem aquele stress da 24 de Julho, ou lá como se chama aquele pedaço de estrada. Por quilómetros e quilómetros e quilómetros... É disfrutável, entendem? DU-UH!!
As principais vias de acesso (linhas de comboio, autoestradas e IC's, aquelas que acusam o Cavaco de ter construído e que não vão para lado nenhum - vão, existem e são muito úteis, mas não se vêem de Lisboa) passam AO LARGO, onde não ameaçam a qualidade de vida das localidades (pronto, houve lavradores que se queixaram um bocadito).
Numa marginal (feita por gente e para gente), a estrada (não é estraaaaada) não tem mais de quatro metros de largura, pode ser atravessada em qualquer ponto e tem passeios largos. As moradias caríssimas, que pagaram pela localização, usufruem da localização, e ficam mesmo ali do outro lado da rua, em frente à praia ou ao rio, a fazer inveja a quem passa. É seguro para as crianças atravessarem a rua e irem brincar para a praia ou o jardim da marginal, sem terem de passar por túneis escuros e mijados ou passagens superiores intransponíveis para pessoas de mobilidade reduzida.
Gosto de estar em Lisboa, mas que é uma cidade construída à portuguesa no pior sentido, é mesmo!
Antes da Expo98, aquele magnífico pedaço de margem de rio era ocupado por fábricas, gasolineiras e armazéns!!! E agora, que descobriram a pólvora, um metro de chão está ao preço do ouro.
Vão-se lá chamar capital, mas definitivamente, é Lisboa que vive à margem da província.
(Desculpa, Jorge, eu tinha de postar isto)
13 Comments:
ASSINO POR BAIXO!! POR ISSO CADA VEZ GOSTO MAIS DA MINHA CIDADE!
Falemos de duas entidades, uma que vos será mais familiar do que a outra. Uma chama-se AGPL e outra dá pelo nome de AGPL. Não, não estou louco, têm ambas o mesmo nome só que um termina em Leixões e outro em Lisboa. Ambas são "donas e senhoras" dos terrenos que ocupam, alguém lhes deu o direito a ocupá-los quando o conceito de "marginal" não incluía pistolas e assaltos a bombas de gasolina. Todas as zonas, a Oriente e a Ocidente de Lisboa que a Sílvia reclama como "disfrutável" foram, em anteriores gerações, entregues à AGPL. O Porto teve a sorte de a "fava" ter saído a Leixões. É por essa razão que as esplanadas de Leixões não são invocadas neste post... Que me parece um bocado nacionalmente xenófobo. Porque também me pareceu estúpido ler que "o declive imenso do terreno, o desrespeito pela consideração humana" está na génese da existência da própria cidade se vista do ponto de vista de defesa da mesma... Urbanisticamente, minha cara Sílvia, o factor defesa é absolutamente diferente nos casos de Lisboa e Porto. (Du-Hu!)
Quem é você?
O que se passa em Lisboa, é que há gentinha/entidades que se julgam donas da marginal, donas de tudo o que abraça o rio e deve ser para disfrute da comunidade. E como temos o péssimo há bito de aceitar tudo o que os "grandes" dizem, o povo sujeita-se e como com tudo. Aceita que lhe sejam colcadas paredes, portagens, acessos condicionados que lhes vedam o acesso ao rio, ao mar. Esse mar que nos domina e faz a nossa história.
Ainda sobre obstáculos, experimente conhecer o verdadeiro metro. E se lhe cansa esse serpentear de Lisboa, reze para que as escadas rolantes não estejam paradas. Parque, Rato e Baixa-Chiado (saída para o Largo Camões) são interessantes para subir.. à pé!
Cumprimentos.
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
É o homem que não sabe assinar o próprio nome.
Mais um desses e ninguém saberá, para além do seu nome, aquilo que escreveu.
O que eu queria dizer com este post e, pelo vistos, não foi grandemente entendido, é que noto em Portugal, mas especialmente em Lisboa - porque cá estou há pouco tempo e tenho uma visão desafectada da cidade - um tendência para construir agredindo à força toda as pessoas para quem a construção deveria ser destinada.
É gritante a falta de consideração pela pessoa humana (como pela natureza, mas isso já vem ainda mais de trás), as suas capacidade de mobilidade e a qualidade de vida que é possivel ressalvar.
Se as necessidades das pessoas com dificuldade de mobilidades (deficientes motores, visuais, etc) não são acauteladas, não penseis que as necessidades e a segurança de nós que (ainda) temos as nossas faculdades em forma, estão acauteladas.
A escolha de um pavimento escorregadio só porque é mais bonito, é uma ameaça à integridade humana. E de cada vez que alguém escorrega, cai e se magoa, podendo arranjar lesões permanentes ou incapacitantes para o trabalho, há prejuízos pelos quais ninguém é responsabilizado.
Em outros países, onde a justiça é mais civilizada, a Câmara Municipal estaria a braços com processos de indeminização repetidos.
A construção de um viaduto à altura de uma janela, o isolamento de uma linha de praia pela passagem de uma linha de comboio ou uma via de grande tráfego, a inexistência de acessos universais aos edifícios públicos e particulares, a construção de habitações exíguas, de urbanizações que não prevêm espaços verdes suficientes, revela a atitude egocêntrica dos senhores arquitectos abençoados com toda a saudinha e previlégios e que nunca terão de usufruir das belas obras que projectam. As cidades assim nascem, e as pessoas que lá nascem também nunca conhecem melhor, e sentem que aquilo que têm não os satisfaz, mas é assim, e como é assim desde que nasceram, é assim e é bom(zinho). Não é. Não precisava ser assim.
Quanto ao Porto, Athus, é preciso conheceres melhor. Se queres um péssimo exemplo, dou-te a linha do Metro de superfície que não se encontra suficientemente protegida para evitar acidentes. Tens, no pior exemplo de todos, a linha a passar a escassos 30/40 cm (centímetros!!!) do portão de saída da Escola Superior de Enfermagem de Porto, e do restante trajecto. Esta zona, onde ficam o Hosp. S. João, o IPO, várias faculdades, concentra um movimento intensíssimo de pessoas e carros. O primeiro atropelamento ali só está à espera que o Metro comece a passar lá.
E podia escrever muitos mais exemplos, em Lx, no Porto, onde eles existirem.
E sim, a marginal de Lisboa tem uma vista lindíssima. Foi por isso mesmo que escrevi este post. Porque é um património que deveria ter sido mais respeitado.
quanto mais tempo passo por lá ... mais tempo kero ficar por lá, pork será?
Porque rima..?
experimenta ir de bicicleta do cais do sofré até ao guincho.
Há caminho?
No Porto, já consegues ir de Matosinhos até à Costa de Gaia (quase até Espinho?), de bicicleta.
é um passeio espectacular. se não tiveres pernas para ir até ao guincho, vais até cruz quebrada, oeiras, carcavelos... é demais!
MASSA CRÍTICA
28 ABRIL 2006
18H00 – LISBOA, MARQUÊS DE POMBAL
18H30 – PORTO, PRAÇA DOS LEÕES
A Massa Crítica (também designada de Bicicletada) está inserida no contexto de um movimento internacional de nome “Critical Mass”, iniciado em São Francisco há já 10 anos. A ideia consiste em realizar um passeio lúdico e reivindicativo de bicicleta pelas ruas da cidade. Neste passeio os participantes divulgam de maneira criativa o uso de bicicletas e protestam contra o uso abusivo de transportes poluentes.
Objectivos:
1. Divulgar e promover o uso da bicicleta como meio de transporte;
2. Criar condições favoráveis ao uso da bicicleta como meio de transporte;
3. Tornar mais ecológicos os sistemas de mobilidade e transporte.
Resumo dos Princípios:
Não há hierarquia de cargos. As decisões são tomadas por consenso. A Massa Crítica é um movimento apartidário e não comercial. A participação é aberta a qualquer pessoa ou entidade que esteja de acordo com os objectivos do movimento. Para participar na Massa Crítica basta comparecer no local combinado, no dia e hora marcados com a sua bicicleta, skate ou patins. Não é preciso fazer qualquer tipo de inscrição ou pagar qualquer taxa. Os roteiros são decididos na hora e podem ser realizados por todos, inclusive principiantes. Pode trazer seus próprios panfletos, cartazes ou faixas ou usar os já existentes. Se é automobilista e não pode participar da Bicicletada pedalando, o seu apoio também é bem-vindo, seja divulgando a causa, seja respeitando o ciclista no seu dia a dia.
Para mais informações visite http://massacriticapt.net
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