Era uma vez, mas não foi.
Era uma vez eu, tu e toda a gente que há no mundo.
Antes de nascermos, os papás coleccionaram manuais de puericultura e saúde em família para saberem o que fazer quando metêssemos feijões pelo nariz ou ardêssemos em febre com uma alergia ao leite chocolatado. Depois, vieram os manuais para a infância, as educadoras estagiárias que nos faziam testes para saber se era aos 4 ou aos 5 anos que conseguíamos apertar os atacadores e fornecer a nossa morada ao senhor polícia em caso de nos perdemos. A infância foi um período feliz se não tiver havido pedófilos por perto, pais estranhados e se tivermos sido nós a bater nos outros meninos e não o inverso. Nessa altura, viajamos na imaginação por mundos fantásticos em que tudo pode acontecer. Atrevo-me a dizer que a infância tem algo de muito sábio. Pena que depois vem a adolescência e esquecemo-nos disso tudo.
É então que descobrimos que somos todos diferentes e que queremos ser únicos, mas iguais aos outros todos. A complicação da adolescência é isso mesmo, uma complicação. Pressão de grupo, ceder ou não ceder, pertencer ou criar o próprio grupo, evitar tudo e todos e ser um solitário, vestir preto e raramente mudar de roupa, gastar a mesada em roupa de marca, ou comprá-la na feira e morrer se alguém nos descobre, evitar o espelho ou adorá-lo, professar o credo numa letra de música, descobrir substâncias desaconselhadas ou proibidas, consumi-las ou evitá-las, dedicar esses anos a bares escuros e cheios de fumo e álcool e conversas profundas em que se discutem o sexo e os anjos, ou passar os dias na praia, no mar, no campo de treinos a acreditar que somos capazes de ganhar o próximo jogo e a próxima competição, guiados pelo guru que é o nosso treinador-e-mais-que-nossa-mãe que nos lava o cérebro e nos inculca a convicção de que conseguimos dominar a bolinha e de que somos tudo se vencermos e somos uma merda se falharmos, ou não, e depois escrever tudo isto em livrinhos e diários que escondemos nos sítios mais improváveis, e só mostramos ao(s) namorado(a)/melhor amigo(a), com quem temos relações de afecto absolutamente eternas até ao dia em que entrarmos na faculdade.
(respirar)
Depois disso, marranço e copos, copos e marranço. Quatro, cinco anos depois, ou mais, saímos pela porta por onde entrámos e não nos lembramos de porra nenhuma do que andámos a fazer.
Com 20 anos, estamos cheios de força e de certezas e temos todas as fórmulas para mudar o mundo. Também temos 5 anos para cumprir o calendário que nos inculcaram durante a infância e a adolescência, e que era a razão pela qual deveríamos ter sempre boas notas na escola.
Saídinhos da faculdade (quem nunca foi para faculdade, leva um avanço de 5 anos), deveríamos então conseguir um bom emprego na área em que investimos os anos anteriores, casar com o namorado que tivémos na faculdade, desde que ele andasse em Medicina, Engenharia ou Direito e já tivesse um futuro assegurado. Dar uns dois anos e casar. Os papás ajudam a comprar a casa e mobilam a casa. Mais um ano e vem a primeira criança, a mudança para um apartamento maior, trocar o utilitário por uma station wagon ou jipe, ir tomar café à esplanada todo o santo domingo de manhã.
Se tudo correr conforme o planeado pelos paizinhos, e com uma sorte descomunal, viveremos nesta gaiola de segurança (como aquelas com que se mergulha com tubarões) até ao fim da vida e seremos um modelo para a comunidade e uma referência para a imensa maioria a quem não aconteceu nada disto. Porque à maior parte das pessoas, depois dos 25 e até aos 30, 40 ou seja quando for, não aconteceu mesmo nada disto. Afinal, havia era um mundo de possibilidades.
Antes de nascermos, os papás coleccionaram manuais de puericultura e saúde em família para saberem o que fazer quando metêssemos feijões pelo nariz ou ardêssemos em febre com uma alergia ao leite chocolatado. Depois, vieram os manuais para a infância, as educadoras estagiárias que nos faziam testes para saber se era aos 4 ou aos 5 anos que conseguíamos apertar os atacadores e fornecer a nossa morada ao senhor polícia em caso de nos perdemos. A infância foi um período feliz se não tiver havido pedófilos por perto, pais estranhados e se tivermos sido nós a bater nos outros meninos e não o inverso. Nessa altura, viajamos na imaginação por mundos fantásticos em que tudo pode acontecer. Atrevo-me a dizer que a infância tem algo de muito sábio. Pena que depois vem a adolescência e esquecemo-nos disso tudo.
É então que descobrimos que somos todos diferentes e que queremos ser únicos, mas iguais aos outros todos. A complicação da adolescência é isso mesmo, uma complicação. Pressão de grupo, ceder ou não ceder, pertencer ou criar o próprio grupo, evitar tudo e todos e ser um solitário, vestir preto e raramente mudar de roupa, gastar a mesada em roupa de marca, ou comprá-la na feira e morrer se alguém nos descobre, evitar o espelho ou adorá-lo, professar o credo numa letra de música, descobrir substâncias desaconselhadas ou proibidas, consumi-las ou evitá-las, dedicar esses anos a bares escuros e cheios de fumo e álcool e conversas profundas em que se discutem o sexo e os anjos, ou passar os dias na praia, no mar, no campo de treinos a acreditar que somos capazes de ganhar o próximo jogo e a próxima competição, guiados pelo guru que é o nosso treinador-e-mais-que-nossa-mãe que nos lava o cérebro e nos inculca a convicção de que conseguimos dominar a bolinha e de que somos tudo se vencermos e somos uma merda se falharmos, ou não, e depois escrever tudo isto em livrinhos e diários que escondemos nos sítios mais improváveis, e só mostramos ao(s) namorado(a)/melhor amigo(a), com quem temos relações de afecto absolutamente eternas até ao dia em que entrarmos na faculdade.
(respirar)
Depois disso, marranço e copos, copos e marranço. Quatro, cinco anos depois, ou mais, saímos pela porta por onde entrámos e não nos lembramos de porra nenhuma do que andámos a fazer.
Com 20 anos, estamos cheios de força e de certezas e temos todas as fórmulas para mudar o mundo. Também temos 5 anos para cumprir o calendário que nos inculcaram durante a infância e a adolescência, e que era a razão pela qual deveríamos ter sempre boas notas na escola.
Saídinhos da faculdade (quem nunca foi para faculdade, leva um avanço de 5 anos), deveríamos então conseguir um bom emprego na área em que investimos os anos anteriores, casar com o namorado que tivémos na faculdade, desde que ele andasse em Medicina, Engenharia ou Direito e já tivesse um futuro assegurado. Dar uns dois anos e casar. Os papás ajudam a comprar a casa e mobilam a casa. Mais um ano e vem a primeira criança, a mudança para um apartamento maior, trocar o utilitário por uma station wagon ou jipe, ir tomar café à esplanada todo o santo domingo de manhã.
Se tudo correr conforme o planeado pelos paizinhos, e com uma sorte descomunal, viveremos nesta gaiola de segurança (como aquelas com que se mergulha com tubarões) até ao fim da vida e seremos um modelo para a comunidade e uma referência para a imensa maioria a quem não aconteceu nada disto. Porque à maior parte das pessoas, depois dos 25 e até aos 30, 40 ou seja quando for, não aconteceu mesmo nada disto. Afinal, havia era um mundo de possibilidades.
18 Comments:
Sinto nos jovens portugueses um peso excessivo dos pais... sobretudo nas mulheres... tudo o que fazem, a casa que vivem, com quem vão para a cama, etc, é sempre a pensar se os pais aprovariam a pessoa, a atitude... Falta aqui jovens que saiam de casa mais cedo. Até para ficar mais parecido com os outros países da europa.
Aconteça ou não aconteça, são raros os que estão satisfeitos, S. Quanto a mim, a melhor forma de estar é não sonhar de mais, mas continuar a lutar pelo que queremos. Sermos coerentes e não nos ficarmos pelo "remedeio". Como eu já disse antes, mais vale 1 paixão fugaz, de vez em quando, que uma vida inteira de frustração.
Andaste a ver o trainspotting?
Fogo...
:)
Rosmaninho, ando, corro, atrapalho-me toda dou grandes trambolhões e levanto-me logo a seguir...quase sempre. Mas não me importava de apanhar uma boleiazinha de vez em quando. Afinal, já dei muitas.
em vez de "O Nelson", não podias por "O Nelsinho"?
as gajas gostam mais ...
Pois , começo a achar que a vida aos 30 (aos 29, mais concretamente...) me está a dar que pensar... POrque será que me identifico tanto com as tuas palavras....? Agora deixaste.me blue.....
Brilhante! Adoro a forma como escreves! Muitos parabéns por pores em palavras o que para maioria de nós é díficil sequer de organizar no pensamento...
Quem segue a sua vida sem dramas, e passa todos os passos pré-estabelecidos de uma forma ligeira é porque nunca pensou que realmente há um mundo de oportunidades a explorar. só temos uma vida...dizem...
Toda a vida é uma viagem e podes fazê-la em várias modalidades. É mais ou menos como as férias: há os "pacotes", como o estilo de vida politicamente correcto que descreves, há viagens pª grupos e há o ir sem destino.
Vou nos 50 e olha que o melhor é variar entre os 3 estilos.
Em todo o caso, são bem-aventurados os que podem largar tudo e todos e partir cada vez que querem, mesmo os que têm que pedir licença pª o fazer.
Be happy, mesmo que tenhas que te preocupar uma vez por outra.
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A tal história dos planos sempre me fez muita confusão. Eu sou mais um daqueles que mijam fora do penico...
HA HA HA, o pior é que ainda é mais complicado do que isso....
o ião
há duas hipóteses maioritárias fora desse cenário que descreveste: uma é apontar-se alto como o raio e depois render-se à frustração quando não se atingir o que se almejou; em alternativa é viver sem qualquer expectativa, ou até mesmo com expectativas negativas, que é para se e quando se atingir algo de bom, podermos ficar "contentes" com isso... em todo o caso, é praticamente uma no win situation... tchau
Sílvia,
vc escreve bem. Gostei do seu blog e dessa análise existencial que vc faz. Sou brasileiro, de Florianópolis, estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Meu blog versa mais sobre política, mas também abro espaço para as artes, sobretudo para a música e a pintura. Mas o forte mesmo é a análise política.
Grande abraço do
Aluízio Amorim
http://oquepensaaluizio.zip.net
Eu queria mudar de post, mas não tenho assunto.
Olá Silvia,
Daqui: anonymous que vai nos 50 ...
Mais própriamente "a anonymous".
Continuação de boa viagem.
Pª 2X1: o que se faz é o que nos der na gana, desde que se consiga viver c/ as consequências.
Pª Raul: o que interessa é que estás a viajar. As melhoras do dente.
Obrigada Lvira. :)
Assim, sim.
Obrigada e beijinhos.
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