Uma fábula de Natal.
Era uma vez uma prenda de Natal que andava perdida.
Era uma prenda muito grande e bonita, só que ainda não sabia a quem pertencia.
A prenda andou pelo mundo todo em busca da pessoa a quem se haveria de oferecer. Ainda se entregou aqui e ali, mas nunca ninguém conseguiu desembrulhá-la verdadeiramente. Acabava sempre devolvida à procedência. Até ao dia.
Era sexta feira e Sílvia, a duende, já tinha saído do trabalho. Apetecia-lhe arejar, depois de um dia a posar para maillings de Natal com Rudolf-a-Rena-do-Nariz-Vermelho e o Pai Natal, a fazer desenhos para papel de embrulho e a ler os briefings para prendas de Natal que chegavam dos meninos de todo o mundo. Sílvia decidiu que havia de dar um passeio pela neve, e apanhar fresco no nariz e ficar mesmo parecida com Rudolf-a-Rena-do-Nariz-Vermelho. E lá foi, aos pinchinhos, a brincar com os esquilinhos pelo caminho, e a saltar troncos, quase a subir às àrvores, a olhar para as estrelas.
Estava ela completamente distraída a andar com o nariz a apontar para a estrela mais brilhante do céu, quando.... CATRAPÁS! SLOSH! PUM! CATRAPUM! SLOSH! SLOSH! PAFF!!...
Que grande trambolhão!!
Ainda meia tontinha e coberta de neve, reparou que tinha tropeçado num embrulho muito grande e muito lindo, cheio de luzinhas e com uma nota a dizer: "SOU PARA TI.""
"Uaaau...!", pensou Sílvia, com os olhos tão arregalados que mais pareciam duas luas cheias, cheias, mas mesmo cheias, mesmo, mesmo.
"Estou tola... Não pode ser... Para mim? Mas quê...para mim, assim, para mim, só para mim, isto tudo para mim, assim...? Eh pah...". Voltou a ler a etiquetazinha: "SOU PARA TI, TODINHO ASSIM, SIM, PARA TI, SÓ PARA TI, ASSIM, PARA TI, SIM!...OU PREFERES UMA FATIA DE TARTE DE CHOCOLATE?"
"Ehehehehehh...", Sílvia adorava prendas com sentido de humor. Ainda assim, desconfiou... Começou por ficar sentada na neve, a gelar o rabiosque e a olhar pro embrulho. Era grande, muito grande, um metro e noventa de grandura. Mexeu-lhe. Puxou pelo laçarote e a coisa buliu. A terra tremeu. Um pedaço de neve despencou do ramo da àrvore que ficava ali mesmo por cima e foi aterrar mesmo em cima da cabeça da duendezinha. POFT!
"Oh!...
Se calhar é melhor ler outra vez as instruções", pensou.
Voltou a pegar na etiqueta, e leu: "TOU À TUA ESPERA HÁ MUITO TEMPO, IMPORTAS-TE DE TE DESPACHAR? TENHO TANTO PARA TE CONTAR".
Sílvia olhou pro telemóvel da TMN, um daqueles que sobraram do anúncios de Natal, e foi ver o calendário.
No visor:
10 DEZEMBRO 2006 : o Natal é quando o teu homem quiser. Podia ter esperado até dia 26 de Dezembro, mas só se nasce uma vez. Abre a prenda, rapariga. Este ano, o Natal chegou mais cedo. E os teus anos também, e todos os dias em que se recebem prendas e todos aqueles em que não se recebem, mas em que se merecem.
A prenda então começou a mexer-se muito e a rasgar o papel, e Sílvia não teve de fazer mais nada. Ficou só ali, a iluminar a noite com os olhos brilhantes e arregalados, a ver aquele homem lindo, com um sorriso enorme, a libertar-se do papel que o envolvia e dos laçarotes que o amarravam, e a agarrá-la pelas duas mãos, ajudando-a a levantar-se da neve e a dizer-lhe: "Vem, vamos viajar! Vamos? Vens comigo? Anda! Vamos."
E Sílvia foi. E nunca devolveu aquela prenda porque aquela prenda era só para ela e para mais ninguém e tinha finalmente chegado ao destino.
Desde então, todos os dias, quando vai trabalhar a ajudar o Pai Natal, Sílvia, a duende, vai sorridente, e aos pinchinhos, aliás como se pode ver aqui.
9 Comments:
Espectáculo!
Adorei!
Alguém case com esta rapariga. Este post, pela melancolia embutida, é de fazer chorar as pedras da calçada.
E ainda por cima a tipa é gira.
Melancolia, Edie!? :D
Digamos que esta fábula é baseada em factos verídicos e que os personagens, à parte do Pai Natal de Rudolf, a Rena-de-Nariz-Vermelho não são ficcionadas... ;)
Fico feliz. Se calhar a melancolia é minha.
Detesto Natal.
Então, Edinho?
Aparece no msn para conversarmos um bocadinho, vá.
Carreguei no "aqui". Está giro. Fez-me sorrir!
...é por isto que eu gosto tanto daquilo que escreves!
gosto tanto de te ler!
:)
beijinhos!
mas q belo conto de natal.
parece q por vezes a magia acontece :)
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