segunda-feira, abril 26, 2010

O teu quintal não é o meu.


Tu tens um quintal. Um sítio perfeito, onde te sentes seguro e bem recebido todos os dias. Um sítio onde te podes refugiar quando te sentes triste, e onde celebras quando te sentes feliz, onde buscas a energia quando dela mais precisas. Tu tens o teu quintal, um sitio que conheces melhor que ninguém e que faz parte de ti e, por isso, faz de ti uma pessoa imensa, feliz, inteira, forte.

Imagina que, por amor, deixas de poder viver no teu quintal. Imagina que, por amor, te afastas 300kms do teu quintal, e portanto não podes ir ao teu quintal sempre que queres ou sempre que precisas.

E imagina que, depois, para lá ires, és obrigado a combinar com outra pessoa, e ficas condicionado à disponibilidade dela, porque senão o fizeres, a outra pessoa fica triste ou sente-se abandonada, e portanto, se insistires em ir ao teu quintal, vais carregadinho de culpa e de suspeitas alheias. O teu quintal já não é só o teu quintal. Subitamente, o teu quintal, onde costumavas ir perfeitamente sozinho, é agora um sítio onde só podes ir acompanhado porque a outra pessoa não entende que precises de o disfrutar sózinho.

Porque a outra pessoa é importante, o teu quintal deixou de ser importante. Mas o teu quintal faz parte de ti, por isso, tu deixas de ser importante. E ficas mais pequenino, e à mercê daquilo que parece ser mais importante para a pessoa que é importante para ti: a agenda das pessoas que ela conhece, as vontades das pessoas que ela conhece, os quintais das pessoas que ela conhece. E para não afrontares estas pessoas que tu mal conheces, deixa de ser importante fruires da tua liberdade ou acudires à tua própria necessidade de respirar o ar do teu quintal.

Em pouco tempo, viverás uma vida em que mal te reconheces, longe daquilo que um dia conheceste e que fez de ti a pessoa grande, imensa e feliz que cativou aquela que te levou para longe do teu quintal.

Tu, que tens um quintal, aproveita-o bem enquanto o tens.