"We need to get out more."
(Recebi isto hoje por mail. Não sei quem escreveu. Assina apenas "guru", e basta. Reproduzo na integra, porque merece.)
"Se és designer ou criativo, talvez já tenhas descoberto um dos segredos da profissão: as empresas onde ganhamos o pão não alimentam a criatividade. Aliás, elas nem sequer sabem o que é a criatividade.
As empresas de comunicação são especialistas na arte do desperdício de talentos. Sob o pretexto, simplista, de o design e a publicidade estarem ao serviço das necessidades do marketing, acabam por nivelar por baixo o potencial criativo das peças que desenvolvem. A lógica da venda sobrepõe-se tirana sobre o potencial inovador que os recursos humanos poderiam criar. Como a psicologia dos Clientes favorece quase sempre a solução convencional, consensual, contida, são raras as agências que têm a força moral para furar o muro da mediocridade.
Há uma característica do acto criativo que continua a escapar à inteligência de muito boa gente – quão mais criativo é um trabalho, mais resistências vai encontrar. O público, quer o das equipas de marketing, quer o consumidor final da comunicação, incomoda-se com tudo o que seja diferente da sua experiência passada; pois o que é novo obriga a pensar. Ora, pensar assusta aqueles que estão satisfeitos com o que já conhecem.
O que seria uma casa criativa ideal? Quando lemos as missões e apresentações e aspirações das empresas ditas criativas encontramos sempre a mesma lenga-lenga. Que “somos absolutamente fantásticos a fazer o que fazemos e que mais ninguém consegue fazer porque temos um método de trabalho genial e uma organização divinal” e etc. Entre esta retórica e a realidade há uma maior distância do que entre a Lua e o fundo do universo. A verdade está nesta simples constatação, criar criatividade implica ter gestores criativos. Gestores capazes de compreender os factores decisivos na actividade dos designers e criativos, capazes de moldar o ambiente de trabalho e capazes de seduzir a Clientela com ousadia intelectual. Se não remarmos todos na mesma direcção, mais vale mandarmo-nos à água e começar a nadar – sempre chegamos mais longe.
Designers e criativos transportam consigo um sonho nebuloso, indefinido, desfocado, sobre o seu futuro. São como seres fabulosos, no sentido em que se aparentam com as criaturas mitológicas cujos corpos são constituídos por partes de diferentes animais. Esse conjunto heterogéneo de grifos, quimeras, harpias e minotauros vive cindido entre as exigências de um trabalho industrial e o desejo de ser artista. Permanecer no meio e não perder a alma, embora servindo a dois senhores, pede uma constante atenção ao essencial da nossa vocação. Isto é, se tivermos vocação...
A criatividade começa nos genes, não nascemos todos para o mesmo. A criatividade desenvolve-se com uma educação rica em estímulos para as nossas capacidades específicas, sejam as gráficas, visuais, de escrita ou conceptuais. A criatividade cresce com as experiências da vida, a descoberta das nossas estonteantes possibilidades, a consciência de nunca estarmos acabados. E a criatividade atinge a maturidade quando se compreende a sua finalidade suprema – entrar na intimidade invisível do outro, vencer o abismo que separa duas pessoas.
Se existisse uma empresa de comunicação que escolhesse os seus criativos pela ambição de marcarem a diferença, os seus produtores pela paixão da perfeição, os seus contactos pelo entusiasmo de vender grandes ideias e superiores execuções, os seus directores pela visão comercial revolucionária, uma empresa que se unisse na derrota e fosse generosa na vitória, que não exigisse dos criativos que chegassem cedo ao trabalho mas antes que chegassem o mais rápido possível às boas ideias, que investisse na inteligência emocional muito mais do que nos computadores, que escolhesse Clientes também pela liberdade criativa que eles permitissem e que fizesse do dia-a-dia laboral uma oportunidade para nos dignificarmos como seres humanos – quanto pagarias para trabalhar aqui?
A criatividade não nasce nas agências. A criatividade é aquilo que os criativos levam para as agências, mas que foram buscar a outro lado qualquer. We need to get out more.
guru, 2004"
"Se és designer ou criativo, talvez já tenhas descoberto um dos segredos da profissão: as empresas onde ganhamos o pão não alimentam a criatividade. Aliás, elas nem sequer sabem o que é a criatividade.
As empresas de comunicação são especialistas na arte do desperdício de talentos. Sob o pretexto, simplista, de o design e a publicidade estarem ao serviço das necessidades do marketing, acabam por nivelar por baixo o potencial criativo das peças que desenvolvem. A lógica da venda sobrepõe-se tirana sobre o potencial inovador que os recursos humanos poderiam criar. Como a psicologia dos Clientes favorece quase sempre a solução convencional, consensual, contida, são raras as agências que têm a força moral para furar o muro da mediocridade.
Há uma característica do acto criativo que continua a escapar à inteligência de muito boa gente – quão mais criativo é um trabalho, mais resistências vai encontrar. O público, quer o das equipas de marketing, quer o consumidor final da comunicação, incomoda-se com tudo o que seja diferente da sua experiência passada; pois o que é novo obriga a pensar. Ora, pensar assusta aqueles que estão satisfeitos com o que já conhecem.
O que seria uma casa criativa ideal? Quando lemos as missões e apresentações e aspirações das empresas ditas criativas encontramos sempre a mesma lenga-lenga. Que “somos absolutamente fantásticos a fazer o que fazemos e que mais ninguém consegue fazer porque temos um método de trabalho genial e uma organização divinal” e etc. Entre esta retórica e a realidade há uma maior distância do que entre a Lua e o fundo do universo. A verdade está nesta simples constatação, criar criatividade implica ter gestores criativos. Gestores capazes de compreender os factores decisivos na actividade dos designers e criativos, capazes de moldar o ambiente de trabalho e capazes de seduzir a Clientela com ousadia intelectual. Se não remarmos todos na mesma direcção, mais vale mandarmo-nos à água e começar a nadar – sempre chegamos mais longe.
Designers e criativos transportam consigo um sonho nebuloso, indefinido, desfocado, sobre o seu futuro. São como seres fabulosos, no sentido em que se aparentam com as criaturas mitológicas cujos corpos são constituídos por partes de diferentes animais. Esse conjunto heterogéneo de grifos, quimeras, harpias e minotauros vive cindido entre as exigências de um trabalho industrial e o desejo de ser artista. Permanecer no meio e não perder a alma, embora servindo a dois senhores, pede uma constante atenção ao essencial da nossa vocação. Isto é, se tivermos vocação...
A criatividade começa nos genes, não nascemos todos para o mesmo. A criatividade desenvolve-se com uma educação rica em estímulos para as nossas capacidades específicas, sejam as gráficas, visuais, de escrita ou conceptuais. A criatividade cresce com as experiências da vida, a descoberta das nossas estonteantes possibilidades, a consciência de nunca estarmos acabados. E a criatividade atinge a maturidade quando se compreende a sua finalidade suprema – entrar na intimidade invisível do outro, vencer o abismo que separa duas pessoas.
Se existisse uma empresa de comunicação que escolhesse os seus criativos pela ambição de marcarem a diferença, os seus produtores pela paixão da perfeição, os seus contactos pelo entusiasmo de vender grandes ideias e superiores execuções, os seus directores pela visão comercial revolucionária, uma empresa que se unisse na derrota e fosse generosa na vitória, que não exigisse dos criativos que chegassem cedo ao trabalho mas antes que chegassem o mais rápido possível às boas ideias, que investisse na inteligência emocional muito mais do que nos computadores, que escolhesse Clientes também pela liberdade criativa que eles permitissem e que fizesse do dia-a-dia laboral uma oportunidade para nos dignificarmos como seres humanos – quanto pagarias para trabalhar aqui?
A criatividade não nasce nas agências. A criatividade é aquilo que os criativos levam para as agências, mas que foram buscar a outro lado qualquer. We need to get out more.
guru, 2004"
11 Comments:
We shure do. E não só nos livros e nos filmes.
Recomendo um around the world ticket. Comigo está, ainda, a resultar.
Voltar é que já é mais chato. O que é nosso, já não é bem "nosso", apesar de estar igual… nós é que não.
See ya.
Sempre soube que tinha "nascido para isto". Os genes não enganam. E, sim, sou metade grifo, metade minotauro. Uma espécie de pequeno génio, como todos os publicitários deviam ser.
Belo texto. Belas metáforas...
E aproveitar hoje, o Solestício.
Precisamos é de agir. Isto no plano das ideias só chove, não molha...
Ou será que a tresloucada da Silvia é a única que ainda insiste. Talvez devesse conformar-me como os demais.... como este guru anónimo.
Cães que ladram não mordem. Pois. São cães criativos.
...E é isso, vamos mas é aproveitar o solestício, o S. João do Porto e o jogo de Portugal/Espanha no meio do povo. Já é alguma coisa, e já nos mantém divertidos até sexta feira. Depois, é sexta feira e basta, e depois fim de semana e também basta. E depois há quem meta férias...pois. O melhor é não pensar mais nisto. Afinal, a pensar morreu um burro. Os contactos e os clientes que pensem. Nós só executamos. Vida boa....
sábias palavras que esbarram sempre, hélas, na necessidade concreta de ter um ordenado ao final do mês com que pagar a adsl e a renda da casa...
Por supuesto.
Mas a necessidade, digna e justificada, do ordenado, não justifica a mediocridade de muitos dos responsáveis das agências e dos estúdios criativos. Pelo contrário, as campanhas mais arrojadas são, muitas vezes, feitas para big money clients, aqueles que, realmente, têm dinheiro a sério e querem continuar a tê-lo.
Em Portugal, existem poucos, pouquíssimos clientes assim. Existem muitos que são médios, que têm bom dinheiro, mas entre um mercado pouco exigente, uma concorrência diminuta e uma ideia de criação bacoca e muitas vezes de mau gosto, a coisa perde-se e nivela-se por baixo.
Vivo em Barcelona, onde, por mercado e alguma mentalidade (não tão diferente como se poderia pensar) as coisas se querem mais arrojadas e diferentes, pelo que não será o melhor exemplo, mas, atiro para a discussão, Buenos Aires, onde depois da maior crise da história do país (a Argentina, entenda-se), saíram das agências, excelentes spots e campanhas, fosse para o supermercado foleiro de bairro, fosse para a coca-cola (o spot mais barato, e dos mais brilhantes, da história da companhia foi rodado há dois anos e ganhou inúmeros prémios).
Pois, como não havia mais nada a perder, deixa-se os malucos dos criativos fazer o que quiserem… e foi o que se viu.
E reafirmo, repito e insisto, há que apanhar ar… do fresco.
só mais isto:
http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1197309&idCanal=88
Obrigada Nuno.
:)
No worries. Foi um gosto.
Bom S. João
Estou por longe, preso a notícias de Portugal. Até que enfim que vejo uma nesga no granito, para saber como está o meu pôr do Sol no Cabedelo, como está a vida que teria se aí tivesse ficado.
Se calhar já me cruzei contigo, ou olhei para as tuas calças rasgadas e o que elas escondem. Discretamente. Nunca tive a coragem de me atirar a uma rapariga da minha cidade.
Afinal, o Porto é tão complexo, intricado e simples... Mas gosto dele assim, como o mostras: Pelo buraco da fechadura. Os de Lisboa são janelas, não têm piada.
Daniel.
Olá Daniel!
Pois, é o Porto é tudo isso.
E não é preciso atirares-te. A mocinhas do Porto são fortes de carácter, mas frágeis e delicadas como um mangerico. Provavelmente, ia tudo parar ao meio do chão... :)
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