sexta-feira, junho 18, 2004

Silvia COM filtro

(...mas a deitar fumo pelos olhos...!)
Imaginem um talhante rico que vai ao médico, acompanhado do seu afia-facas. Vai ao especialista, a um profissional competente que sabe o que faz. E o talhante rico vai lá porque o médico é bom. Caro, mas bom. O talhante fica calado com cara de empoado, enquanto que o afia-facas passa o brief, perdão, explica a situação.
- Ao sr. dr. Talhante dói-lhe a cabeça, e o sr. dr. Talhante deseja que o senhor lhe receite uma aspirina.
O médico escuta a sugestão de receitar a aspirina, tão elevada e eloquentemente proferida pelo afia-facas de serviço do sr. dr. Talhante, mas sabe que a sua obrigação e formação profissional o obrigam a realizar-lhe o exame completo para determinar a origem do problema.
Assim faz. E diagnóstico não é o esperado, mas também não é completamente desanimador:
- Lamento informá-lo, mas o senhor sofre de um tumor cerebral. No entanto, é perfeitamente operável. Garanto que essa seria a melhor solução e que ficaria completamente curado.
Sem registar uma única palavra do que especialista dissera, o afia-facas, que já conhece o patrão e aquilo de que o Talhante padece (foi sua, aliás, a sugestão da cura pela aspirina em doses entretanto já planeadas estrategicamente) desfia o discurso que já tinha preparado anteriormente (fruto da longa experiência em lidar com este tipo de ralé):
- O senhor não sabe o que diz. Faça como lhe foi pedido. Uma aspirina é o remédio que o sr. dr. Talhante deseja e é o que vai ter. Afinal o sr. dr. Talhante paga. Faça o favor de escrever a receita conforme lhe disse: AS-PI-RI-NA, com A no início e no fim.
A vontade do médico era mesmo mandar o afia-facas à merda, mas já tendo cumprido a obrigação de os informar dos factos, limitou-se a suspirar... este era um caso perdido. Escreveu "aspirina" num pedaço de papel de propaganda médica e entregou-o ao afia-facas. O afia-facas, orgulhoso de mais uma missão cumprida, entregou o papel ao sr. dr. Talhante e acompanhou-o à farmácia para se certificar que tudo seria feito à sua vontade.
Uns meses mais tarde, o Talhante morreu, e nem sequer a herança houve para agradecer ao fiel afia-facas que não teve outro remédio senão ir lamber as respectivas do Borra Botas que se seguiu.

O mais chato desta história é o que médico também perdeu o cliente. E o Talhante podia ter vivido muito mais e ter tido tempo para padecer de mais doenças resoluveis, e ter tido família e filhos e recomendado o serviço aos amigos. Halas...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cara S.,
Continuas em bom estilo. Cada vez mais apocalíptica.
J.

sexta-feira, 18 junho, 2004  
Blogger S. said...

Há dias em que é assim...Há gente completamente desintegrada da realidade. Só não sei se são eles ou se sou eu...
Empresta-me o livro, mas só se vier com respostas. Mais questões e iluminações exclusivas tendem a conduzir-me a locais muito solitários.
Cada dia valorizo mais a expressão: Santa ignorância.
Abençoados os ignorantes porque será deles este mundo.

sexta-feira, 18 junho, 2004  
Anonymous Anónimo said...

S,
Os livros não se emprestam. Dão-se ou escondem-se.
O livro de que falas é dos que tenho escondidos.
J.

sexta-feira, 18 junho, 2004  
Blogger S. said...

Escondido de quem? Porque existe nos escaparates das livrarias e nas prateleiras das bibliotecas.
O que lá encontraste escondido que agora não queres mostrar?

sexta-feira, 18 junho, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Para S:
O que se esconde quando não nos queremos encontrar.
D: J

sexta-feira, 18 junho, 2004  
Blogger Magnolia said...

Shôra dona S, tenho russos para si. Se quiseres manda-me um mail.

sexta-feira, 18 junho, 2004  

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