quarta-feira, outubro 13, 2004

Loira?! Loirinhaaaa...

Há mais de dois anos, em 09/06/2002, eu escrevi assim:
Há dois dias cheguei a casa à meia noite e meia. Ia a sair do carro e apareceu-me um cachorrinho muito escanzelado, empapado da chuva, com um olhar tristinho. Não resisti e fiz-lhe uma festinha. E depois outra, e depois olhei para aqueles olhinhos de mel e escutei o que ele tinha para me dizer.
"Tu és humana. Pareces pacífica. Tu podes ajudar-me. Eu não faço mal. Também sou pacífico. Ó pra mim. Puseram-me fora. Eu já tive donos, mas não sei onde estão. Posso ficar contigo? Ficas comigo? Ó pra mim que sei que não posso fazer cócó dentro da tua casa. Ó para mim a pedir com jeitinho e com as duas patinhas molhadas sobre o teu casaco de couro... ó para mim a dar-te um beijinho - já sei que não queres...Se não me enchutares vais ficar comigo. Ó para mim. Ó pra mim, que tá a chover e não quero passar outra noite ao relento..."

Eu podia ter virado as costas, mas ó pra ele. Pois. Há alturas assim em que fazemos este tipo de coisas. "Se vieres atrás de mim, mostro-te onde moro, e até pode ser que te adopte..." Ele veio atrás de mim. E veio para a minha casa. E custou-lhe subir as escadas. E eu pensei que fosse só fome e fraqueza. Depois meti o cão na banheira e descobri que tinha as tetitas inchadas. Não era cão. Era cadela.
Tiraram-lhe os bebés e abandonaram-na a seguir, pensei. Porque é cadela. Não interessa se é dócil e muito linda. É cadela e isso justifica tudo.

Ontem cheguei a casa, e a cadela....ainda não lhe dei nome....chamo-lhe de tudo... tinha tido dois cãezinhos. Um já tava morto, o outro é de pêlo dourado.
Agora tenho dois cães...num apartamento. Ai ai. Não sei que faça. E o homem do condomínio não me curte nem um bocadinho... A ver vamos. Se não, vou ter de lhes arranjar dono ou valer-me da Sociedade Protectora dos Animais.


Em 09/06/2002, apenas algumas horas mais tarde, voltei a escrever:
O cãozinho nao resistiu. A cadela foi baptizada Quiri.

Em 12/06/2002, eu escrevi assim:
Update: a cadela só se chama Quiri no registo do veterinário. Desde então já foi Loira, Sombra (porque não me larga) e presentemente chama-se Sofia. Só para que saibam. E para que não insistam em chamar-me Sofia por que não sou Sofia. Sofia é o nome da minha cadela. Estou a pensar em pôr-lhe um lenço ao pescoço...ou será que já não se usa? Ou será que só se usa nos Golden Retrievers, ou será nos Labradores. Mmm...e nas Sofias?
Em 18/06/2002, eu escrevi assim:
heeeee: ERRADO! A cadela ficou definitivamente Loira e cheira muito mal da boca. Parece o Axel Rose.

E apenas ontem, 12/10/2004, eu descrevia a minha cadelinha a um amigo, assim:

Sometimes I feel like Loira is the only one that is ALWAYS there for me, the only one I trust, the only one who's devotion I can make my life depend on, the only one who's simple love is all I want.
Loira doesn't need a leash. She just walks beside me every time. No strings attached. And that's how I treat people too. I only want them with me if they wish that themselves.



...IS THIS A REALLY STUPID TWIST OF FATE?!

1 Comments:

Blogger Rodrigo Flores King said...

Fate....I don't know. Sometimes it's really hard for me to believe that there's a reason for everything, and it's even harder when it just happened. Like the moment when I was burying my little cadelinha Nunki, my face all wet in tears that couldn't let me to even see the soil carried by the shovel; with my throat closed, not being able to utter a single word, just cry and more tears flooding through my eyes.
I also demanded answers, an explanation for why life treated me like this: Taking away what I love the most and leaving me with this awful loneliness.
I also blamed life -and even God- for taking my little cadelinha away. To make her suffer a horrible death, to leave me once again unattached, unloved, sad.....
But there are some things we cannot help. We cannot bring anyone to life from the death, we cannot change some situations that are just there, slapping us in the face.
We cannot blame anyone: neither life nor God. No matter if they don't have a reason, things happen.
As I wrote in my blog, my only comfort was to pay a tribute for someone who gave me so much. Now I take Nunki everywhere, not only in my head and in my heart, but also in a tattoo on the left side of my lower torso, a proud Sagitarium with his bow ready to fire and the name of my beloved cadelinha underneath: Nunki.
I also said that the loss of a dog hurts me more than any other. I cried for her for days, hiding myself from life itself, wanting to join her in death, embracing my sadness, and still having to deal with the world.
So I understand. What I can only hope is that little Loira is somewhere around and she can get into your arms very soon. I understand how you feel. I wish I could be by your side, talking to you about the wonders of having that little company, the only one that -as you said- is always there for you.
What I learned from all this is that they REALLY stay here for you. Dogs have that gift. Even beyond death, beyond life, they are in your heart, devotion and simple love untouched, unaltered. The same love you got from them when they were around, is the same that will keep filling your heart, even if they're not there. Because a dog, as I consider them all, are this beings that teach you so much about life, about love, about care, about devotion, about loyalty and friendship; all this lessons change your life, so they never disappear, they become part of who you are, and you become a much better person after sharing your life with a câozinho or a cadelinha. I don't know if things have a reason, but I know without doubt that I would never change a minute with my dogs than a lifetime with most people that I know: "Mientras más conozco a las personas, más quiero a mi perro".

quinta-feira, 14 outubro, 2004  

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