Mais vale só do que desacompanhada.
Ultimamente, ando numa de solidão. Anda-me a saber bem ficar em casa, dormir muito, anestesiar-me com televisão, conceder-me o prazer de ler um livro, ou então pegar no carro e bazar autoestrada fora. Cada vez mais gosto de fazer coisas sózinha, se bem que não 'solitária', sem ter de combinar, negociar ou deixar de fazer o que quero como quero, durante o tempo que me apetece e só porque os outros desejariam algo diferente. Não gosto de ouvir não. Detesto ainda mais ser ignorada, sendo que o pior de tudo são as desculpas esfarrapadas. Dispenso.
Durante muito tempo, acomodei os interesses dos outros mais do que uma almofada anatómica. Era um autêntico génio da lâmpada que não se precisava de esfregar. Detectava as carências e buscava as soluções. Dava pica resolver coisas. Era bom, mas era um exagero. Eles queriam e eu tudo bem, eles preferiam e eu, ya, na boa. Eles, vamos? e eu, a ir! Mas quando chegava a minha vez, eh pá, deixa-te disso...hmmm. Pois.
Fartei-me, enchi-me, mudei. Não se trata de uma revolução, nem de uma nova filosofia de vida, mas o tempo em que eu me virava do avesso para cuidar dos outros, agora, simplesmente, passou. Naturalmente.
Agora fico impávida a vê-los ressabiar. Quanto muito, ofereço um conselho, dou uma opinião, acendo umas luzes, mas já não me comprometo. Eles que se desunhem. Eu só sei o que sei hoje porque me desunhei muitas vezes sózinha - sim, já pareço uma velha a falar, mas é verdade. Por esta característica, agradeço à minha mãe que nunca me facilitou demasiado as coisas, e ao meu pai que me fez acreditar que, havendo boa vontade, desenrascanço e jogo de cintura, tudo é possível. Agora estou cansada, mas, ainda assim, não me sinto mais satisfeita.
Não sinto que as coisas sejam melhores, nem mesmo mais divertidas. São mais marásmicas, na verdade. Sinto o pessoal todo muito indiferente, muito descomprometido, muito "deixa andar", muito medíocre.
Para me tentar adaptar, passei a oferecer apenas a versão digest da Sílvia, uma Sílvia diluída, Sílvia mas pouco, Sílvia desbotada, Sílvia omissa, Sílvia com filtro, Sílvia que vai de muda a calada em dois suspiros. Ainda assim, continuo a ouvir que eu tenho excesso de iniciativa, que devia falar menos, fazer menos. Menos ainda e eu morro! Mas se ficar calada, também acham estranho. Não tenho como ganhar.
Ou tenho. Mudando de campeonato. Para poder fazer as coisas que gosto como gosto quando gosto e só porque sim, faço-as sózinha. Cada vez mais. Depois, oiço dizer que eu é que sou maluca, eu é que sou grande eu é que não me deixo ficar. Mas todos têm a oportunidade de me fazer companhia. Basta querer. Se repararem bem, eu convido sempre, só que só convido uma vez. E se não convido é porque não quero ouvir a resposta.
5 Comments:
Se não soubermos fazer coisas sozinhos nunca seremos boa companhia. Nem nunca faremos uma boa escolha de uma companhia. Ou, reduzindo a coisa à sua essência, se não nos apresentarmos a nós e aos outros como verdadeiramente somos, ninguém fica a ganhar nesse teatro de sombras.
:)
O que chateia mesmo, pelo que percebi, é ter que ouvir dizer tanta coisa, não?
Além dos mais, quando decidimos fazer algo acompanhados, então é que vale mesmo a pena.
Se a companhia for perfeita, é fantástico. Eu sei que sim. Mas depois de ter provado o sabor da total independência e auto-determinação, há coisas que se tornam complicadas de aceitar.
Muitas vezes quando dizemos aos outros que não nos apetece ou que não gostamos sem sequer conhecer o objecto em questão, estamos a desiludi-los, a mostrar que cagamos para o que sentem e a desconsiderar a inteligência deles e o seu interesse na actividade. E estamos também a perder uma oportunidade de aprender algo novo e viver uma experiência nova.
O medo, a preguiça e o egoísmo (muitas vezes inconsciente) alheios são os factores que me fazem preferir às vezes fazer as coisas sózinha.
Permition granted, Athus. Proceed.*
trad: Permissão concedida. Prossegue.
(apeteceu-me escrever em inglês, pronto. Convinha era que deixasses o link do teu blog.)
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