Coisa pública que não vai.
Tão incrível como possa parecer, há quem, em Portugal, e trabalhando para a máquina do Estado, até saiba como resolver os problemas que nos assolam ou, pelo menos, se importe com elas e, dentro da sua área de especialização, procure encontrar soluções, trabalhando no duro. E tanto trabalha que estuda, analisa, pesquisa, convoca reuniões e faz apresentações powerpoint e tudo o mais, tira fotocópias, dá conhecimento, faz relatórios, envia notas de serviço, pede autorizações, regista opiniões, faz inquéritos, recolhe os resultados, soma números e compara-os com outros, e até encontra justificações matemáticas, económicas e conjunturais pelas quais é mais vantajoso avançar com determinadas acções e medidas. Tudo isto é cuidadosamente apontado em intermináveis e mal paginados volumes de páginas e mais páginas cheias de letrinhas e números e gráficos, em formato A4, encadernados ou não, a que depois escolhe, invariavelmente, chamar de "PROJECTO de...". Entretanto, demora tanto tempo a preparar toda a documentação necessária (porque trabalha quase sózinho, ou tendo normalmente equipas reduzidas ou de gente que tem mesmo de sair às 5) que, quando a coisa fica pronta, o governo cai ou muda e todo o trabalho é simplesmente engavetado, arquivado e esquecido porque "é do tempo do outro ministro".
A pessoa desmotiva e considera mudar-se para o sector privado ou meter os papéis para a reforma. Para o seu lugar, vem outra pessoa que não percebe nada do assunto, demora um ano a inteirar-se das questões inerentes à função, e só então, TALVEZ, comece a trabalhar para os resolver. Mas começa do zero porque perguntar é visto como sinónimo de ignorância e não de interesse. E assim a coisa pública vai.
Ou não vai, de todo.
A pessoa desmotiva e considera mudar-se para o sector privado ou meter os papéis para a reforma. Para o seu lugar, vem outra pessoa que não percebe nada do assunto, demora um ano a inteirar-se das questões inerentes à função, e só então, TALVEZ, comece a trabalhar para os resolver. Mas começa do zero porque perguntar é visto como sinónimo de ignorância e não de interesse. E assim a coisa pública vai.
Ou não vai, de todo.
1 Comments:
É triste!
Vou mergulhar e esqueçer que tens razão!
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