terça-feira, junho 14, 2011

Memórias afectivas.

As memórias afectivas são uma coisa fodida. Coisas que foram boas e depois se tornaram más, tornam desagradáveis, para não dizer insuportáveis, sítios, datas, percursos, tudo. Eu sou muito achacada a memórias afectivas. Isto, porque entendo tudo de uma forma afectiva e portanto, quando as coisas correm mal, tudo me dói, me incomoda, me afasta dos sítios onde as senti. Este ano, foram os Santos em Lisboa. A juntar a nunca ter achado muita piada ao caos que se apodera de Lisboa, passei aqui dois S.to António que me marcaram. No primeiro ano, uma cabeleireira armada em diva enredava-se nos sugestionáveis neurónios do meu melhor amigo. Aquilo virava-me o estômago e só consegui ser simpática até à entrada do elevador, no final da noite, recusando-me a levar a menina ao taxi — fui de uma resistência estóica.
No segundo ano, tive por cá a minha mãe e uns amigos comuns do namorado, e até foi divertido, mas apesar de não se notar, eu estava doente, pelo que essa noite uma canseira muito para além do agradável.
Este ano, atravesso uma das alturas mais difíceis da minha vida em que a tudo aqui em que eu insistia em acreditar foi destruído à catanada. Pirei-me para o Porto e evitei todas as referências à dita festa lisboeta.
A sensação é que não suporto mesmo nem os Santos, nem a Lisboa antiga.
Ou melhor, tem dias, tem cantos, tem companhias que me fazem ver alguma beleza nas esquinas débeis e sujas da velha capital. Esses dias são aqueles em que me sinto livre, e jamais os dias em que me sentia forçada a sobreviver por ali.
Tenho de substituir umas memórias por outras. A desadequação pela amizade pura. O julgamento injusto pela aceitação plena. A dor pela liberdade. Pode ser que nessa altura, eu comece finalmente a tolerar Lisboa antiga. Até lá, todas as paredes terão espinhos.

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