A minha ama.
A vida no campo tem os seus encantos. Há tempo para apreciar o próprio tempo de não fazer nada, ou apreciar verdadeiramente cada momento, um depois do outro. Com tempo.
Há espaço para sentir a brisa quente e escutar o som das folhas a remexerem nas árvores e dos passarinhos que piam, sonolentos, por ali perto. Há liberdade para passeios lentos com a cadela, dando-lhe tempo para ela cheirar tudo o que é cantinho, covinha, tronco de árvore e poste de iluminação e ir demarcando o território que será dela até à próxima mijinha alheia. Foi assim que encontrei, a descansar no banco do jardim, que está muito calor, a velhinha ama que tomou conta de mim desde os 3 meses e em todas as férias da escola. A minha mãe referia-se a ela como Mãe Milinha, mas para mim sempre foi só a Milinha, porque mãe há só uma. A Milinha era a minha ama e sempre me pareceu a velhinha mais bonita do mundo, com o seu cabelinho branco e olhos muito azuis. Alta, robusta, com mãos fortes e calejadas que levantava para ameaçar sapatadas no rabiosque quando eu não comia a sopa toda, mas era sempre traída pelo sorriso lindo e carinhoso e pela voz doce e rouca com que adormecia até o diabinho mais irrequieto... :)
"Dorme dorme, minha menina, que a mãezinha logo vem..." era assim que ela me cantava, mas eu não adormecia porque preferia imaginar o que a minha mãe estaria a fazer no trabalho.
Com ela, aprendi a conjugar na perfeição todos os verbos na 2ª pessoa do plural. "Andais a passear, minhas meninas? De onde vindes? Por onde andásteis? Não tendes calor?".
Estava acompanhada do Manel Chéu, homem robusto, mas coxo, que continua a ter os mesmos 60 anos que sempre nos pareceu, e que corria atrás de nós com um pau quando nos metíamos pelo meio do milho crescido e lhe partíamos as canas todas.
Pediu-me que um dia destes fosse passar uma tarde com ela. Um pedido tão simples, não é? Amanhã mesmo. Tenho tempo.
Há espaço para sentir a brisa quente e escutar o som das folhas a remexerem nas árvores e dos passarinhos que piam, sonolentos, por ali perto. Há liberdade para passeios lentos com a cadela, dando-lhe tempo para ela cheirar tudo o que é cantinho, covinha, tronco de árvore e poste de iluminação e ir demarcando o território que será dela até à próxima mijinha alheia. Foi assim que encontrei, a descansar no banco do jardim, que está muito calor, a velhinha ama que tomou conta de mim desde os 3 meses e em todas as férias da escola. A minha mãe referia-se a ela como Mãe Milinha, mas para mim sempre foi só a Milinha, porque mãe há só uma. A Milinha era a minha ama e sempre me pareceu a velhinha mais bonita do mundo, com o seu cabelinho branco e olhos muito azuis. Alta, robusta, com mãos fortes e calejadas que levantava para ameaçar sapatadas no rabiosque quando eu não comia a sopa toda, mas era sempre traída pelo sorriso lindo e carinhoso e pela voz doce e rouca com que adormecia até o diabinho mais irrequieto... :)
"Dorme dorme, minha menina, que a mãezinha logo vem..." era assim que ela me cantava, mas eu não adormecia porque preferia imaginar o que a minha mãe estaria a fazer no trabalho.
Com ela, aprendi a conjugar na perfeição todos os verbos na 2ª pessoa do plural. "Andais a passear, minhas meninas? De onde vindes? Por onde andásteis? Não tendes calor?".
Estava acompanhada do Manel Chéu, homem robusto, mas coxo, que continua a ter os mesmos 60 anos que sempre nos pareceu, e que corria atrás de nós com um pau quando nos metíamos pelo meio do milho crescido e lhe partíamos as canas todas.
Pediu-me que um dia destes fosse passar uma tarde com ela. Um pedido tão simples, não é? Amanhã mesmo. Tenho tempo.
10 Comments:
E vais mesmo? Era porreiro que fosses.
Olá Silvia sem acento, tenho lido o teu blog com alguma regularidade. Só hoje no entanto é que me apeteceu comentar, habitualmente acho que os comentarios são tão vazios, que pra quê deixar um n é?
Mas gosto muito do que escreves, nem sempre concordo, ás vezes identifico-me, outras vezes pergunto me de que planeta és.. Mas é uma boa sensação ver um bocado do mundo através de ti.
Vai mesmo, Silvia. Eles merecem, os velhos que nos um dia seremos
kem diria?
à miúda é mais do k 1 pedaço d pólvora misturada com piripiri e barro ...
Ticha! Os comentários no meu blog são do melhor que há! Ok, já tive tempos melhores, mas adoro os meus comentadores! Eles aqui estão à vontade e é sempre bem vindo quem comenta por bem.
Às vezes, nem eu acho que seja deste mundo, mas isso faz parte do encanto, do meu e deste blog. Muitos dos meus comentadores também vêm de planetas de fora desta galáxia.
Por exemplo, o Nelson diz disparates como aquele, e eu deixo. É da água lá no planeta dele...
Agora deixaste-me com saudades da minha... :)
Calma, ehehe! Não me referia aos comentarios do teu blog, até porque nunca os li! Isso é o que eu sinto acerca de comentarios em geral.
Infelizmente não damos muita atenção aos nossos "velhos" e depois só nos arrependemos de não ter passado aquele tempo quando é tarde demais.
Beijinhos e passa uma boa tarde com ela ;)
Como é bom regressar ä infäncia...
Faz isso por todos nós q amanha nao poderemos voltar a ser míudos e teremos q continuar a ser putos neste mundo de adultos!
;-)
água? no meu planeta???
pois! isso ...
E tu sabes onde é que está, todas as terças e quintas, a empregada que quase me educou desde que eu nasci e que entrou lá em casa com 16(!) anos? Que, até casar, morava lá em casa, mas lá continuou a trabalhar a dias?
Trata agora dos meus. Melhor é impossível.
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