It's Black, It's White...
Ontem foi dia de Colisão, Crash para os cinéfilos.
Eu devia ter escrito este post ontem, ainda afectada pela escuridão do cinema. Mas não, escrevo hoje, de manhã, e não prevejo grande espingarda. (Olha! afinal ainda estou no registo).
Lembram-se do "Love Actually"? Várias histórias independentes que se cruzam até à conclusão final de que o amor está em toda a parte? É por aí, mas na versão cruel, negra, deprimida, revoltada, em ponto de bomba, que é o melting pot americano, bem lá do fundo, onde tudo se queima e cola ao tacho.
É uma história de pessoas e emoções, da vida segundo o preconceito, o medo instalado, o desconforto e a solidão. Um retrato da violência das grandes cidades, a intolerância, o racismo, o racismo e ainda o racismo e a xenofobia. E depois, as pessoas. Parece que há bons e maus, mas não há. São todos bons e todos maus e levados a isso à estalada. Fazem merda de um lado, redimem-se do outro numa vida que já é contra-natura. Todos os contactos são colisões, expressões atabalhoadas da solidão extrema de que são reféns. E depois, as histórias cruzam-se. Cada vez que o plano abre, há uma surpresa revelada, uma ideia pré-concebida que cai por terra, um então-era-isso. É um desabafo cinematográfico, mesmo.
Imagino o argumentista a escrever aquele texto e a ter uma catarse orgásmica ao pôr no papel tudo aquilo que não se pode dizer sobre os negros, os hispânicos, os chineses, os árabes, os iraquianos e sim, também os brancos, e que todos eles (os que vivem na América e não só) pensam e sentem. Só faltou legendarem um "Foda-se!" no final de cada tirada e o prazer estaria completo.
Este é um filme que nos faz sentir sós à saída do cinema. É um filme que nos recorda de todos os testos (trad: tampos de panela, telhados de vidro) que nos colocaram por cima, que nos revoltam e sufocam e que lutamos para ultrapassar, que nos lembra todos preconceitos que já tivemos de enfrentar e aqueles que temos em relação aos outros. É um filme que funciona e nos faz pensar.
Também é o belo e típico mete-o-dedo-em-todas-as-feridas-da-sociedade-americana-e -depois-escarafuncha-até-provocar-lágrimas-e-sangue-e-dor-na-alma. Definitivamente, Colisão é the next best thing num ano em que a opção da Academy seria premiar a homossexualidade... Nah, venham de lá esses pretos machos, os tiroteios e as cenas de acção.
8 Comments:
huum...acho que disseste tudo, gosto dessa capacidade analitica :)
E dizes que não estas inspirada? FDX!!
Quando eu nao tou inspirado e quero fazer uma review de um filme digo : "Gostei" ou "Nao gostei"...
Tu escorres para aqui a toda a velocidade!
Anyway.. ainda tenho de ir ver esse filme.. tou a ficar desactualizado!
Agora com o kingkard tou a prever muitas reviews...
gosto das tuas sinopses.
salvo melhor opinião (mas confio que a minha é a melhor :P), o crash é um pastiche muito fraquinho (muito preto e branco - todos somos bons e ruins, nada é definitivo, e tudo resulta das circunstâncias - há mesmo (mas posso estar enganado), um resquício (não me parece um resquício, mas enfim...) da teoria que nós não somos totalmente responsáveis pelos nossos actos, e que é o destino que nos define (e eu acho, mas posso estar enganado outra vez, que isto é tipicamente americano), a culpa nunca é deles, é das circunstâncias -, ... já me perdi...
ah! já sei! o crash é um pastiche (muito fraquinho) do MAGNOLIA.
[mas isto é só a minha opinião, ainda que ache que ninguém me consegue convencer de que eu não tenha razão]
Recorda-me lá o Magnolia.... Só me consigo lembrar do Tom Cruise...
o Tom Cruise no magnolia marca!
São apenas 20 minutos.. mas marca!
o Tom cruise e os sapos!
mas sapos ha mtos..
Belo texto, disso eu não tenho dúvidas.
;)
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