terça-feira, abril 25, 2006

Só para meter o cravo.


A pedido de várias famílias, vejo-me forçada a escrever mesmo este post, sob a ameaça de ser chamada de fascista ou opositora do regime democrático. Devo, então, afirmar publicamente que o 25 de Abril de 1974 foi uma data importante para Portugal, para a Liberdade e a Humanidade lusa.
Tenho plena consciência de que só sou quem sou hoje, com a educação, cultura e oportunidades de que usufruo (sim, essas todas que nós sabemos) porque há 32 anos atrás, um punhado de homens tomou uma atitude.
Confesso, contudo, que, tendo nascido após a Revolução, não senti a diferença entre o antes e o depois. Lamento.
A minha mãe conta que, apesar da veemente oposição do meu pai, me levou às manifs in utero. Eu teria na altura os punhos cerrados e terei esperneado qualquer coisa. Em várias oportunidades, depois do nascimento e nos anos que se seguiram, fui chamada várias vezes de reaccionária - não sei se se aplica, ou se serve a vossa sede de Abril, mas é o melhor que posso fazer.

Quando era miúda e assistia às transmissões televisivas das comemorações do 25 de Abril, sentia medo. Medo.
A televisão era a preto e branco tornando ainda mais assustadores aqueles homens feios de fartos bigodes e cabelo esguedelhado com risca ao lado, com farfalhudas suiças que pareciam brotar da gola alta sob o casaco tweed. Eram grandes planos que multidões zangadas que invadiam as cidades e gritavam palavras de ordem, de punhos fechados e expressão grave. Quando chegou a cor às televisões, os homens feios foram substituídos por intermináveis paradas militares e discursos entediantes da sucessão completa da hierarquia militar supra-sexagenária, e que abanavam folhas A4 do alto de palanques repletos de cravos.
O 25 de Abril era um dia perdido para mim, quase sempre.
Só comecei a gostar quando já estudava ou trabalhava e o feriadito caía sempre bem. Sim, obrigada Capitães de Abril pelo feriado no qual me sinto sempre livre para fazer o que me apetece.
Este ano, o 25 de Abril teve tanta importância como o 23 e o 24, porque foi um fim de semana repleto de emoções. O 23, 24 e 25 de Abril de 2006 suplantaram o de 1974. Não vi televisão, nem vi os jornais, quase nem sequer saí à rua.
As comemorações do 32º aniversário da Revolução dos Cravos passaram-me ao lado, é verdade, como a Restauração da Independência e o Dia de Todos os Santos. Para o ano há mais. Passem cá daqui a um ano, se este blog ainda puder exercer a liberdade de expressão que o caracteriza.

8 Comments:

Blogger S. said...

O cravo é vermelho e o senhor é uma pessoa discreta. Mais a mais, eu já não tenho tv funcionante há mais de uma semana, vai daí, não ando a par das modas.

quarta-feira, 26 abril, 2006  
Blogger S. said...

Também não tenho ido ao cabeleireiro...

quarta-feira, 26 abril, 2006  
Blogger Filipe Gil said...

Adorei o post! Foste sincera e falaste naquilo que de melhor Abril trouxe: a Liberdade de fazermos aquilo que nos dá na real gana!

Lindo!

quarta-feira, 26 abril, 2006  
Blogger S. said...

;)
Sempre às ordens, Capitão Fg.

quarta-feira, 26 abril, 2006  
Blogger Ñuno said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

quarta-feira, 26 abril, 2006  
Blogger Luís said...

Essa é, pelo menos, a opinião generalizada dentro do universo taxista.
De facto, não há taxista que não defenda a teoria "isto no tempo do Salazar não estava assim!" - são uma classe profissional muito insatisfeita - não sei se é um pré-requisito de admissão ou se fazem umas workshops de extrema-direita.

quinta-feira, 27 abril, 2006  
Blogger Explícito said...

Mias reaccionário que isso, não poderia ser. Mas essa é uma Liberdade que tem graças ao 25 de Abril. Claro que na TV os fascistas apareciam melhor vestidos, e com outra aparência.

Cumprimentos,

sexta-feira, 28 abril, 2006  
Blogger S. said...

Achas mesmo que a Revolução só poderia ter acontecido nessa altura? O mundo mudou muito entretanto. Mais cedo ou mais tarde, a ditadura portuguesa capitularia.

sexta-feira, 05 maio, 2006  

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