sábado, janeiro 06, 2007

Lisboa, 2007

Lisboa.
Culturalmente sou do Porto, e isso é mais forte do que alguma vez me poderia ter apercebido que nunca houvesse deixado a minha cidade. Mais do que nascida e criada, a minha cultura é do Norte, a minha identidade funde-se com a do Porto. Sou do Porto, e ando perdida.

Tive uma amiga, há uns anos, que era de Lisboa, mas morava no Porto. Era um bocadinho trabalhólica, logo não tinha grande vida para além da rotina de trabalho-casa-trabalho. Quando me conheceu, e começámos a sair e a fazer coisas, começou a gostar mais da Invicta. Antes disso, a vida dela era uma fuga para Norte. Contudo, não se adaptava. E o desespero era tal que até já investigara o fenómeno da deslocalização e da adaptação a novas cidades. Dizia ela que, segundo os estudos científicos que encontrara, era de dois anos o período de adaptação a uma nova cidade.
Dois anos.
Já cá estou já um ano. Já estive a estudar e tive coleguinhas e cocei muito a barriga. Agora já estou a trabalhar e é diferente. Tenho amigos que já não vejo porque trabalham e estão sempre ocupados, ou que não vejo porque eu própria estou cansada e não lhes ligo. Tenho um namorado que, em menos de um mês, já me mostrou bem mais de Lisboa do que um ano de viagens de metro e saídas no Bairro. Tenho uma rotina, apanho o autocarro ou vou de carro, estaciono criativamente em Lisboa (e até já o faço no Porto) e já desisti de ter o carro impecável. Peço café pingado e bitoque para não ter de explicar mais nada. Digo que sim a todos os chavões nortenhos que me quiserem colar aqui em Lisboa, e desisti de alimentar polémicas norte/sul. Ainda não tenho lojas favoritas, nem um shopping onde goste de me perder quando preciso de terapia de retalho (o que me poupa imenso dinheiro). Já me oriento mais ou menos nesta cidade. Ainda não atingiu o nível instintivo, mas já é mais confortável. Ainda não sou de cá.

Entretanto, sinto-me longe do Porto.
E não tenho saudades.
Sinto-me cada vez mais longe do Porto, sem me sentir mais perto de Lisboa. Isto confunde-me. Tenho dias em que realmente não sei de que terra sou. É o mais estranho de tudo isto. Talvez daqui a mais um ano já me tenha encontrado um bocadinho mais. Bem preciso.

15 Comments:

Blogger Joana said...

Há duas semanas que não vou a "casa"... (visto que não sou de Lx), por isso hoje a minha mummy esteve a passar o dia comigo... quando ela foi embora o meu coração ficou bem apertadinho... moro em Lisboa à 7 anos e ainda assim vivo dividida... entre duas cidades, duas casas, o amor dos meus amigos, o amor dos meus pais...
às vezes sinto que esta escolha tem um preço... que é este aperto no coração... mas sabes... "home is where your heart is" e se isso significa que tenho de estar em muitos sitios, que o meu coração seja maior para abraçar tanta distância... essa sensação de divisão nunca passa, apenas se atenua... o que cresce é a pertença a dois lugares e querer estar neles ao mesmo tempo!

desculpa o coment tao longo... mas foi mais em jeito de desabafo... :)
bjs

sábado, 06 janeiro, 2007  
Blogger S. said...

:) Aqui estás sempre à vontade para comentar tanto quanto quiseres.

sábado, 06 janeiro, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Ou como dizia alguem aqui http://tiagoinlondon.blogspot.com/2007/01/to-lindo-o-nosso-pas.html
quanto mais tempo passas fora menos pertences a qualquer um dos lados... ou antes, crias uma realidade cada vez mais tua e menos partilhada com os que te rodeiam, pois dificilmente encontras pessoas com a mesma "evolução" que tu. Ao mesmo tempo parece haver sempre algo de aliciante nestas situações, o sentir que se é diferente... e às vezes uma só "cidade" é demasiado pequena...

domingo, 07 janeiro, 2007  
Blogger Filipe Gil said...

Um cafézinho para te explicar como dois anos nos fazem deixar de ser do local onde vivemos e nascemos. O que nos coloca a questão, será que fomos mesmo desse local nesse tempo todo.

O meu caso é diferente. Encontrei um sitio que me identifico a 100 por cento. Bem longe das influências que tive, mas exactamente com as influências que sempre procurei durante a vida.

Sou um estrangeiro na minha própria cidade. Não me identifico com ela. Mas gosto dela. Mas ao longe, e com doses pequenas de vez em quando.



E pronto, não chateio mais...

domingo, 07 janeiro, 2007  
Blogger C@B said...

Bem-vinda ao9 clube dos desterrados. Em 3 anos ainda não sem bem onde pertenço...
Sinto-me mais do sítio onde vivo, mas ainda sou de onde vim, onde já me sinto um "estrangeiro" (usando a expressão do fg).

domingo, 07 janeiro, 2007  
Blogger S. said...

Fg, não chateias. Só chateiam (nem tanto) as promessas de cafézinho que nunca se concretizam... :P

segunda-feira, 08 janeiro, 2007  
Blogger Unknown said...

Sabes uma coisa?
Em Agosto saí definitivamente do ninho e mudei-me para o centro de Lx. Estudei e trabalhei sempre cá, mas "casa" era um sítio confortável com os bichos e os mimos dos pais, a 40 kms de distância.
Agora estou cá, na minha suposta independência que só faz com que conheça menos restaurantes novos e põe as massagens fora de questão. Penso muitas vezes: se é para estar assim, mais valia que fosse fora do país. Pelo menos sentia que estava a construir uma carreira. Pelo menos sentia-me desterrada, mas com razão. Pelo menos, havia um objectivo em estar "fora". Este sentimento de não-pertença está enraízado em mim de tal forma que duvido que alguma vez me sinta mesmo "em casa". Por isso, mais vale agarrar nesse sentimento e usá-lo como motor para uma busca permanente de algo melhor. Como aquilo que não me vai deixar conformar com o que tenho. Senão, torna-se tão frustrante que me tolhe os movimentos e me impede de fazer seja o que for.

segunda-feira, 08 janeiro, 2007  
Blogger S. said...

Anita_vai em frente.
:)

segunda-feira, 08 janeiro, 2007  
Blogger jatoz said...

como o estrangeiro de camus, o mundo é estranho e temos de viver nele. a questão é que essa estranha forma de vida pode nos proporcionar mais. pelo menos esse desassossego que é a eterna descorberta de nós próprios...

terça-feira, 09 janeiro, 2007  
Blogger O-ren Ishii said...

compreendo-te perfeitamente! Saí de setubal para estudar em évora, há 4 anos atras... os fins-de-semana em casa foram gradualmente diminuido... nunca me senti verdadeiramente pertencente a évora, mas cada vez que regressava a Setubal tambem me sentia deslocada... agora tenho mais uma cidade para juntar à lista... Estou em Lisboa...
vamos lá ver para onde vou daqui a uns tempos quando acabar o curso...

beijocas

quarta-feira, 10 janeiro, 2007  
Blogger nelsonmateus said...

dá tempo ao tempo criatura ... mas isso já sabes. ;)

quarta-feira, 10 janeiro, 2007  
Blogger S. said...

Adoro quando me chamas "criatura". Mesmo.

quinta-feira, 11 janeiro, 2007  
Blogger Nuno said...

Apetecia-me comentar este post mas não o vou fazer. Se calhar é um bocado como te sentes.

quinta-feira, 11 janeiro, 2007  
Blogger nelsonmateus said...

tu nã existes ... :D

sexta-feira, 12 janeiro, 2007  
Blogger Edie Falco said...

Ei, relaxe... até parece eu anos atrás, quando cheguei a Portugal vindo do outro lado do planeta... o Porto está a rápidas 3 horas de Lisboa...poe-se tomar o pequeno-almoço aqui e almoçar lá...não existe essa distância de que fala, vc ainda está no Porto e não sabe... é logo ali, pelo amor de Deus...
não caia nessa conversa de anos que lhe foi encutida sobre tretas de bairrismos e norte e sul, isso não existe... fogo, vão fazer até um tgv para acabar com essa história, ainda bem... até parece que há alguma diferença muito significativa entre Porto e Lisboa... são os mesmos carrancudos e deprimidos, tanto lá como cá... com excepção que no Porto são um pouco mais porreiros. Não fique puta comigo, beijinho.

sábado, 13 janeiro, 2007  

Enviar um comentário

<< Home