sexta-feira, outubro 29, 2004

E agora para algo verdadeiramente... importante.

A propósito da permanência do José Eduardo Miniz à frente da TVI.
Congratulo-me com essa decisão. Muito mesmo. E desejo fervorosamente que outros jornalistas de profissão, vocação e convicção lhe sigam o exemplo para bem de todos nós, da sociedade portuguesa presente e futura.
Não me agrada particularmente o modelo de informação da TVI. Mas uma televisão generalista privada que faz Informação tem necessariamente de tentar manter o difícil equilíbrio entre o comercialismo (que a sustenta financeiramente com inerentes pressões dos anunciantes - note-se que o Estado já não mete lá tostão, e mesmo que metesse...) e a liberdade de expressão e o direito à informação. Essa é a realidade e essa é uma tarefa complicada nos dias que correm.
O exercício do jornalismo acarreta uma obrigação ética de responsabilidade, de isenção, de respeito pela verdade dos factos, pela equidade, pela objectividade, pela desafectação dos interesses. Tudo isto planta um bichinho no âmago de quem exerce a profissão. É o mesmo do amor à liberdade, à justiça, aos valores que regulam a sociedade em que vivemos. É uma paixão boa que não se apaga nunca. É um objectivo cada vez mais utópico e, por isso, cada vez mais importante de ser concretizado e cuja prossecução deve ser sempre defendida.

Quando entrei na faculdade em 1992, o meu professor de Imprensa falou-me da importância, seriedade e previlégio que seria um dia sermos jornalistas. Foi nesse dia que o "bichinho" me mordeu.
Dez anos depois, voltei à mesma faculdade para concluir o curso que deixara pendurado por uma tese de licenciatura que a realidade do meio jornalistico português conseguiu frustrar. Seja como for, voltei e ouvi um dos meus professores mais respeitados fazer a seguinte afirmação:
"Esqueçam essa coisa de quererem ser jornalistas. Hoje, vocês são todos apenas e só produtores de conteúdos."
Engoli em seco. Eu sabia que ele falava a verdade. Eu já tinha provado essa verdade nos cinco anos que mediaram entre a quase conclusão do interessantíssimo CESE em Jornalismo Internacional, e esta águinha-com-açucar-com-alguns-pontos-de-interesse que era o 4º ano da Licenciatura em Comunicação Social. Não gostei de ouvir. Não porque não fosse verdade, mas porque um estudante de Jornalismo precisa de sair da faculdade acreditando que tem uma função de grande responsabilidade na sociedade, e preparado para lutar por ela.
Temi que os meus coleguinhas inexperientes confundissem o que era um aviso e uma tentativa de desencantamento quanto ao mercado de trabalho, com uma sugestão de uma saída fácil para quem concluia um curso de Comunicação. Temi que fosse demasiado cedo para eles ouvirem uma coisa dessas, porque não a conseguiriam entender. Temi pela (de)formação ética dos meus colegas futuros jornalistas-produtores-de-conteúdos. É aquilo que vem a seguir, a "tarimba", as pressões, a isenção dos OCS, ou a falta dela, que tratará de separar o trigo do joio, formando, deformando ou transformando os ossos (ou as ainda cartilagens) de quem se inicia neste nobre ofício.
Quem tem a sorte de sobreviver como jornalista (não eticamente, mas fisicamente mesmo...aqueles que conseguem comer e ter abrigo com aquilo que ganham a trabalhar 24/7 como jornalistas) tem de lutar por aquilo que acredita, aquilo em que todos os jornalistas (os bons, os verdadeiros, os conscientes) acreditam.
Ontem, José Eduardo Moniz estava demasiado emocionado para ser fluente, conciso ou objectivo. Mas a atitude que demonstrou falou por ele. Palavras não eram precisas tantas para a mensagem passar. Exemplar.
Nunca foi tão importante como agora lutar pela independência da Comunicação Social.
Senhores do 4º Poder, não vos acagaçeis. Não agora. Não nunca.
Não aprecio a Informação da TVI, mas passei a respeitá-la um bocadinho mais.