domingo, novembro 26, 2006

Security blanket


Ultimamente tenho andado muito nostálgica do passado. Não sei porquê, mas ando. Os acontecimentos, as pessoas, as conversas têm-me recordado situações e sentimentos em que há muito não pensava. Talvez seja um fenómeno da idade, ou talvez seja do tempo.
Fez um ano que vim para Lisboa, e finalmente os cenários começam a repetir-se. A luz de inverno ilumina-me a sala como fazia há um ano atrás. Já não estou no curso, e isso faz-me falta. Acabou a novidade constante, agora é tudo repetido. Estou a trabalhar, mas sinto que podia estar a fazer exactamente o mesmo no Porto, sem metade do sacrifício. Sem o sacrifício de ser a "croma do Porto", o sacrifício de ter cada regionalismo atirado à cara, o sacrifício de ter de explicar algumas coisas que no Porto nem seriam discutidas, ou o sacrifício de calar essa mesma explicação porque seria dada em vão. Quem me conhece sabe o sacrifício que é para mim ter de calar. E depois, há a dificuldade da desorientação permanente, de não saber quase instintivamente onde fica o sítio Y e o local Z, e não me sentir feliz caminhando pela cidade, de não ter recordações antigas deste sítio, e de não conseguir imaginar os sítios onde os meus colegas cresceram e se formaram. Falta-me o common ground. Para quem nunca passou por isso, entendo que seja difícil de entender. Eu própria admito que, se não estivesse agora nesta situação, não entenderia mesmo que no explicassem.
A minha avó tinha uma mantazinha cor de laranja, pequenina mas muito quente, que costumava por sobre as pernas enquanto fazia os intermináveis trabalhos de crochet. Como a casa dela estava sempre muito fria no inverno, era com essa manta que me cobria quando eu lá dormia de vez em quando.
Ontem, no hipermercado, encontrei uma manta cor de laranja parecida. Não resisti a comprá-la e ainda não a larguei.

8 Comments:

Blogger teresa.com said...

como te compreendo...

domingo, 26 novembro, 2006  
Blogger Rah said...

Não há lugar como o lar, Silvia... Mas tenho certeza que com o tempo Lisboa vai se tornar o mais próxima disso.
Algumas vezes nos prendemos ao idealizado somente porque fica somente no ideal. Há coisas no Porto que com certeza a remeteriam aos mesmos pensamentos de repetição e monotonia sentidos em Lisboa. O importante é compreender as diferenças e aprender a aproveitar suas próprias potencialidades onde quer que esteja...
Adoro seu blog, já disse uma vez, embora me arrisque a comentar muito pouco. Mostra a sua sensibilidade e força, é inteligente, despojado e me faz ficar mais próxima dessa terra que amo tanto e espero voltar a ver em breve.
Um abraço da amiga brasileira... =)

domingo, 26 novembro, 2006  
Blogger Unknown said...

Experimenta deitar-te, fechar os olhos e tentar levitar. Como não vais conseguir, experimenta pensar no que te prende a Lisboa. Acredita que resulta. Quando sabemos o que nos prende ao chão e nos impede de "voar", torna-se mais fácil tomar decisões :)

segunda-feira, 27 novembro, 2006  
Blogger S. said...

:)

segunda-feira, 27 novembro, 2006  
Blogger K said...

Eu fiz o caminho inverso há pouco mais de 6 anos. Com uma pequena diferença (digo eu): apaixonei-me perdidamente pelo Porto, pela hospitalidade da sua gente, pelo misticismo desta cidade. Nunca me deixei de me sentir em casa, apesar de estar longe da família. E no inicio sempre tive o prazer da descoberta. Por isso, e ao contrário de ti, só recentemente comecei a sentir mais saudades de Lisboa, dos locais por onde passei e cresci. Talvez porque apenas agora sinta a dita rotina.

Nem sempre as pessoas se adequam a uma cidade. Nem são obrigadas a isso. Há cidades que não gostamos e nas quais nunca nos sentiremos completamente bem. Mas se é isso, ou se é apenas uma fase só tu poderás descobrir.

segunda-feira, 27 novembro, 2006  
Blogger Joana said...

(atenção isto não é cheap talk) pela primeira vez alguem conseguiu explicar como é... como é não ter common ground...
é mesmo isso!
eu compreendo-te!

terça-feira, 28 novembro, 2006  
Blogger Manuel said...

Eu compreendo-te. Mas estamos aqui porque escolhemos, porque precisámos de arriscar para seguirmos em frente. Gosto do meu trabalho cá, gosto da pessoa com quem pretendo viver, gosto do meu clube (que, caso não te lembres, é o Belenenses) mas acho que seria exequível tudo isto estando no meu espaço, nos caminhos com histórias na primeira pessoa.
Vamos aguardar que o Porto tenha novamente condições para nós.

terça-feira, 28 novembro, 2006  
Blogger cassandra said...

kawaii!

segunda-feira, 04 dezembro, 2006  

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