Aquilo que me apetece é ir embora.
É deixar de ser julgada por me ir embora. Porque ir embora não exclui voltar, não exclui mudar de ideia, não exclui mudar o destino a meio do caminho.
Aquilo que me apetece é ser livre. Dentro e fora da minha cabeça. Ir, vir, falar e pensar. E não ser condenada de cada vez que abro a boca, e não ser mal-interpretada de cada vez que a inflexão de voz não é perfeita ou que as palavras politicamente correctas tenham sido omitidas.
Aquilo que me apetece é ser lida sem esforço. Nem preconceito, sem traumas que não sejam os meus, sem histórias do antigamente a iluminar — ou sombrear — a história que ainda está para nascer.
Aquilo que me apetece é dizer 'sê', 'faz', 'quero', 'vai', 'vamos', sem ter de dizer 'por favor', 'desculpa' e 'obrigada' só para apaziguar a ânsia de julgamento alheio.
Aquilo que me apetece é ser eu mesma. Sem tirar nem pôr.