segunda-feira, julho 22, 2019

Existem dois tipos de pessoas.

As que não desistem de ti, ainda que não estejas nem aí.
E as que desistem dos outros porque desistiram de si mesmas.

Preciso de ajuda.

Preciso de ajuda. Preciso de uma ajuda simples, daquelas pela qual não tenho de pagar. Preciso de uma ajuda que apenas sei dar, mas que não sei como pedir e, sobretudo, conseguir. Preciso de ajuda e não tenho a quem a pedir, porque implica ter a confiança na pessoa a quem eu peça ajuda. E eu não confio em ninguém. Porque o que peço é mínimo, e ninguém acha que é importante. Logo, ter de implorar por algo que os outros consideram mínimo é ainda mais doloroso.
Preciso de ajuda e não sei pedi-la. Preciso de ajuda e não confio em quem se disponha a dar-ma. Preciso de ajuda incondicional, sem julgamentos, sem prazos, sem custos e sem contrapartidas.
Preciso de ajuda.



(duas horas depois de escrever este post: a ajuda veio de mais lados do que eu poderia esperar. Estou muito grata a que, sem sequer saber deste post, me ligou e me ajudou. Para obter ajudar é necessário pedir ajuda.)

terça-feira, julho 16, 2019

Mood do momento: 'sa foda

Quero bazar. A Sílvia voltou e quer pôr-se a andar. Viajar outra vez, ir embora, contactar com outras culturas, outras paisagens, outros ritmos, correr um pouco mais de mundo. Sa foda o dinheiro, sa foda o trabalho, as obrigações, só não sa foda a gata. Se eu não a tivesse, bem que não parava em casa. Para mim, férias é estrangeiro, é estar livre e não prestar contas a ninguém, é ser eu numa outra terra qualquer. Não me chega ficar em Portugal, nem ir até à praia todos os dias. Preciso de outras vistas, outros costumes, outros sabores e gente nova e absolutamente passageira. Preciso de ir. Quero ir. Vou.
Sa foda. Eu vou.

quarta-feira, julho 10, 2019

Paying it forward.

Talvez seja uma abordagem errada e completamente enviesada, mas para te entender a ti, eu imagino-me a mim, ou recordo como agi em situações semelhantes. Lembro-me do que senti, de como reagi, do tipo de pessoa que eu mostrava ser e de como os outros me viam e percepcionavam — e que eu sabia que não era a correcta, que eu estava longe de ser eu própria, mas eu não sabia fazer melhor na altura.
Lembro-me também de que sempre estive sozinha nos piores momentos. Por outro lado, jamais me esqueço de quem, ainda que momentaneamente, com pequenos gestos, aconteceu estar lá para mim, mesmo que eu tenha rejeitado essa presença, mesmo que eu não a tenha sabido apreciar na altura. Essas pessoas ficaram para sempre no meu coração, gravadas a fogo e gratidão.

Bem sei que nós não vemos os outros como eles são, nós vêmo-los como nós somos. E eu sei que nós não somos iguais, não estamos na mesma situação e que os contextos e vivências são muito diferentes. Ainda assim, respeito-te como eu gostaria de ter sido respeitada e desafio-te como eu gostaria (ou gostei) de ser desafiada. Também sei que neste momento estás incapaz de me compreender ou sequer entender a minha posição, intenção ou sentimentos.
A minha esperança é que um dia sejas capaz de o fazer, e que o faças por quem venha a seguir.

Calma, a minha alma precisa de calma.

Devagarinho, devagarinho, esta frase vai-se enraizando no meu ser. De cada vez que tenho mais energia do que escapes, mais ideias do que energia, ou mais vontade do que razão, lá vem o conselho "Calma, sua alma precisa de calma". E eu lá me acalmo, lá me centro e lá me perdoo por não fazer mais, não ir a todas, ou até por não ir e não fazer de todo.
Atrás de um dia vem sempre outro, com mais energia ou melhor vontade, e as coisas têm sempre uma forma de se comporem.

Sinto-me a aprender a dizer "não", a poupar-me um pouco mais, a reservar-me para aquilo que realmente quero. E quando faço isso, reparo que tenho mais tempo para planear aquilo que quero para mim, para me mimar, para fazer o que ninguém faz por mim, mesmo que possa.

Nunca fui de esperar pelos outros para fazer o que quero porque sempre senti que, se assim fosse, jamais iria a lado algum ou faria fosse o que fosse a tempo.
Sou rápida a dizer que sim aos convites alheios, justamente porque detesto que sejam lentos a dizerem-me que sim a mim. Mas agora, digo com mais calma. Já não empenho a alma.
Agora o pagamento é à vista, e estou longe de ter liquidez.
Vamos com calma, porque, afinal, vamos com a alma.

segunda-feira, julho 01, 2019

Não sei por onde vou, mas já não vou por aí.

Todos temos um limite. Só não nos permitimos admitir ver onde esse limite se encontra.
Por vezes, ultrapassamos o nosso limite, desafiando o nosso próprio bem-estar em prol das necessidades e objectivos de outrém. Pode ser no trabalho, pode ser nas relações com os outros, mas será sempre, primeira e verdadeiramente, na relação connosco mesmos.
E perdemos o limite de vista.
E perdêmo-nos a nós mesmos de vista, e do coração.
E só quando não nos reconhecemos mais — e a última réstia da nossa centelha divina nos incendeia os pelinhos do rabo — é que percebemos que temos de cuidar de nós mesmos primeiro.

Isso não significa passar a ignorar os outros. Isso é infantilidade.
Isso não significa passar a maltratar os outros. Isso é fraqueza de carácter, trauma profundo a precisar de atenção, má formação ou, no mínimo, má educação.
Isso significa, sim, comunicar razões, impôr limites e agir em conformidade.

Às vezes demora ao chegar ao limite.
Às vezes, perde-se uma vida inteira a viver para lá do limite, morrendo um bocadinho a cada dia, sem saber o que correu mal, até se morrer infeliz e vitimizado.
Às vezes, perde-se meia vida a obedecer às circunstâncias externas que nos são nefastas porque acreditamos que estamos a fazer o bem, e só essa convicção é meio alimento para que continuemos.  Mas é só meio alimento.
Vivemos carenciados, coisa que só aumenta.

Até que, às vezes, vivendo mal com o desconforto, temos a irreverência de o questionar. 
Oh, mas que irreverência! O mundo em volta não gosta disso! Chama-te maluca, diz-te "não estás bem da cabeça!", "isso é utopia", "mudaste!", mas nós sabemos que há ali uma porta num sítio qualquer, algo que um dia vamos encontrar e que nos vai permitir ver as coisas com clareza e discernimento. Nós sabemos que existe, só o smog do ram-ram não nos deixa ver claramente. Existe!

E porque o Universo nos dá sempre o que pedimos (ainda que não o queiramos conscientemente), um dia a porta revela-se. Aí, nós revelamo-nos à porta.
Ou bem que estamos prontos e avançamos, ou mal que nos recusamos a ver e nos acagaçamos, ficando mais uns tempos a viver no acolhedor e bem conhecido conforto do desconforto.

É verdade que, por vezes, precisamos de um empurrãozinho. É verdade que, por vezes, até podemos ter uma multidão de gigantes a soprar vuvuzelas e empurrar até que nos esborrachem contra a porta, que, se não estivermos preparados, não a vemos, não a vamos abrir, ou pior, vamos escondê-la de nós mesmos, e vamos lutar para a manter fechada.

Felizmente, também é verdade que, quando estamos prontos, ainda que enremelados e entorpecidos pelo nevoeiro mental, emocional e societal, nos permitimos que um pequeno sopro de anjo nos encoste à porta apenas o suficiente para ela se abrir... E atravessamos.

Caímos estatelados do outro lado. Deixámos tudo para trás. Gastámos toda a nossa última energia de resistência e ficamos ali um tempo, como despojos que dão à costa, meios mortos. Mas prontos para renascer.

Fez-se o click.

A chave rodou na fechadura, engatou no trinco e destrancou o ferrolho. Desatou-se o nó. Fez-se luz, e um novo sol ilumina cada célula do nosso corpo, e a energiza e nos faz sentir o amor pela vida de volta no coração. Foda-se! Aí tudo parece brilhar de novo, tudo, até o mais óbvio e imutável, parece estar mais nítido.

Subitamente, sentimos a força da vida a retornar, os sentidos a voltarem a captar as sensações mais subtis de prazer... e voltamos a sentir-nos vivos. Voltamos a rir, encontramos pessoas com quem fluimos, uma após a outra, como se até ali tivéssemos vivido num planeta estranho e agora voltamos a casa e toda a gente termina as nossas frases e entende as nossas piadas e nos partilha do nosso sentido de humor inteligente, e cada nova interacção, reforça que "esta sim, sou eu".

Reencontrei o trilho. Reconheço a minha tribo, e sinto-me de regresso a uma casa que não sei onde fica, mas que me "lembro" que era mesmo muito fixe.
Minha gente, eu vou a caminho!


PS. Fora de brincadeiras, esta merda acontece mesmo.
Procurem ajuda. Ela existe e está à vossa espera. Atentem aos sinais — eles mostram o caminho. Basta darem o passo.