Hoje fui jogar.
Já não batia bolas há uns... dez anos, praí. Mesmo.
E nem estava a contar.
Hoje de manhã, vinha a chegar a agência, num dos poucos dias desta semana que me sentia enebriada por uma esperança parva, furada, iludida, projectada mas, ainda assim, suficiente para me fazer chegar menos triste ao trabalho. Enquanto me encaminhava para a porta, vejo, do outro lado da rua, uma colega a quem eu simplesmente mencionara, ontem, o quanto gostaria de voltar a jogar ténis, e logo ali ao lado, no Parque de Monsanto.
Eu palro muito, falo sobre muitas coisas, e toda a gente me ouve, eu sei. Não estou habituada é a que me escutem. A Sílvia (é o nome dela também, e um dos mais lindos do mundo) caminhava para mim, carregada com um saco de onde protuberava o cabo de uma raquete de ténis. Quase chorei, não sei se de felicidade, se de surpresa, de agradecimento, ou porque ando com os nervos esfrangalhados. Mas, porra, foi a mais bela visão dos últimos tempos. Ela tinha trazido o equipamento, num dia de chuva, ainda por cima, e se o tempo abrisse ou houvesse um court coberto, estava pronta para ir bater bolas comigo.
Fiquei tão feliz!!! Gosto de gente assim. Gente a quem não é preciso repetir as coisas, meter três requerimentos, pedir com jeitinho ou oferecer a alma em troca, só para combinar com três semanas de antecedência e com 98% de possibilidade de cancelamento.
As minhas raquetes andam sempre no carro, bem como 8 bolas, uma saia de ténis, um par de sapatilhas e o meu equipamento de capoeira que inclui umas calças de treino que dão para todos os desportos.
Sacrificamos a hora de almoço para aproveitar a disponibilidade do court coberto.
Terra batida, o meu elemento. A terra que se entranha nas minhas sapatilhas, e que me ajuda a derrapar para chegar àquela bola mais curta ou mais comprida. A percepção de espaço/velocidade/timming que regressa, o relembrar das dimensões da raquete, da força a aplicar na pancada, direita com uma mão, esquerda com as duas... e correr. Tão bom.
Eu odeio correr. Odeio correr sem motivo, sem destino, sem pressa, sem urgência. Mas para apanhar aquela bola, no momento certo, na colocação correcta, eu corro. Corro de um lado para o outro, corro para apanhar as bolas que estão no chão, corro para chegar à rede e dizer algo à colega, e corro outra vez para recuperar a posição. Corro e não me canso. Corro porque quero e porque é preciso correr para jogar ténis, e mudar de direcção e avançar e recuar, e nunca, nunca ficar estática. É por isto que gosto de ténis. Quero lá saber do jogo em si, do marcar pontos (contá-los é um suplício) e muito menos de servir por cima, sendo que perco sempre pelo serviço. Gosto é de bater bolas, jogar com o adversário, ajudá-lo a chegar à bola (ou não), manter a mesma bola em jogo, com energia, durante o maior número de pancadas.
Há muito que não me sentia tão bem, tão motivada. Estava em casa. Ali não era de Lisboa, nem do Porto. Era uma miúda que joga ténis, sem sotaque, nem estilos, nem diferenças, apenas mais ou menos talento.
Recordei os anos em que frequentei o Clube de Ténis do Porto, e os meus professores que me instigaram a fé absoluta de chegar àquela bola, e mais àquela, e mais àquela, e que só depende de mim. E me permitiram a libertação que era colocar toda a minha força, todo o meu impulso em cada pancada. Woooahh!
Ia tudo.
Tenho de jogar mais vezes. Mas só com quem tiver tanto prazer no jogo como eu. Porque eu não páro.