Ontem foi o aniversário da mais querida das minhas amigas. Conhecemo-nos há... (glup)... uns 28 anos, deve ser. Ela fazia 31, mas isso agora não interessa nada.
Interessa que não existe shopping no mundo onde eu lhe possa comprar uma prenda material que exprima o carinho que tenho por ela. Queria oferecer-lhe algo de especial, por isso, toca de varar a noite a fazer uma gracinha no computador que haveria - e haverá, porque correu tudo mal em termos logísticos - de virar... "o presente" (não, não vou revelar).
Com uma hora e meia já de atraso, e aceitando o facto de que, se insistisse nos meus intentos, iria chegar à festa só lá para as 10 da noite, sucumbi à oferta consumista. Sucumbi, mas nem tanto.
Lembrei-me de lhe oferecer uma flor. Só não podia ser uma flor qualquer.
Um girassol. Um enorme girassol. Um belíssimo girasol que fosse bem para além do conceito de florzinha-olha-como-é-linda-e-como-eu-gosto-de-ti-e-como-eu-fiquei-bem-por-trazer-um-raminho.
Menos mal. Havia 3 girassois na florista, um dos quais a perder pétalas. Sobravam 2.
A pouca experiência que tenho de floristas, ensinou-me a confiar no bom gosto delas e na arte de arranjos florais, algo que acho fascinante. Entreguei-lhe o girassol com um pé de metro e coisa e esperei.
A mulher demorou menos de cinco minutos a devolver-me um raminho pequenino, contido, com um cordãozinho de reposteiro atado ao caule que agora tinha pouco mais de 30cms.
Fiquei a olhar para aquilo, e ela começou a mexer na máquina registadora.
- "Olhe menina, vai-me desculpar, o meu dia está mesmo a correr muito mal. Sabe, eu escolhi o girassol porque é grande. E este girassol... bem, este girassol ficou a parecer-se com um malmequer..."
- "Mas, assim é mais prático para caber na jarra...!"
- "Em qual jarra, menina?"
Olhei em volta e constatei que todos os arranjos tinham o mesmo comprimento e todos cabiam, na perfeição, nas jarras, todas iguais e do tamanho de copos de cerveja, que havia na loja. Todas iguais: rosas, malmequeres, jarros e agora um girassol. Senti-me sufocada e quis defender a diferença do girassol.
Voltei à carga, tentando não deitar tudo a perder.
- "Menina, não se preocupe com a jarra, porque eu também não me preocupo. Preocupe-se com a apresentação. Preciso de apresentação, de dar nas vistas, entende? Por isso escolhi um girassol, um girassol com um pé de metro e meio.
- "Bem, posso sempre arranjar-lhe o outro."
-" :) Se fizer o favor... :)"
A mulher foi e dedicou-se a enfaixar o girassol em folhagens e ramadas, todas muito tristes e muito contidas. Ao menos, sobraria o girassol.
Eu não tinha sorte, mas tenho esperança. Aquela mulher só tem as jarrinhas lá da loja.
Paguei a ninharia correspondente e afastei-me, tentando não roçar o girassol em nenhuma das pessoas que não têm mais nada que fazer a um domingo à tarde senão roçar-se, umas nas outras, num shopping de província.
Cortar curto o pé do colorido e altaneiro girassol. Tolhê-lo, contê-lo, conformá-lo. Vidinha tristinha, assim.
Se calhar, sou só eu. Acho que ando a ler demais nas atitudes das pessoas...