terça-feira, agosto 31, 2004

Não, obrigada.

Hoje não me apeteceu ir à casa de banho.

Tolerancia ZERO a malucos.

Definitivamente. A não ser que os malucos saibam que o são e saibam pedir e merecer a minha ajuda.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Wetenção Criativa.


À sombra da cagadeira.


E pronto, cá estou eu, fechada entre quatro paredes, muito agradáveis por sinal, cinza claras até dois terços do pé-direito, loiças de Valadares (talvez - não me apetece lá entrar para verificar), uma sanita e um bidé, e ainda elegantes acessórios em metal. Dois rolos de papel higiénico, um quase gasto, outro ainda no suporte. Fico feliz só por saber que aqui o céu não me cai na cabeça. E porque esta casa de banho está limpa...o chão tem pegadas, e há umas manchas de ferrugem na parte metálica do revestimento das paredes. A porta não abre. Mais dez minutos a rodar a chave em vão e faço bolhas nos dedos de tanto rodar a porcaria da chave que parece deslizar mas nunca engatar na treta do trinco. Treta. Droga. Chatice! Calma. Nem sequer tenho um telemóvel para mandar uma mensagem. Vim mesmo desprevenida. Também posso bater na parede, e chamar alto...mas não me apetece mesmo nada inaugurar o escândalo. Hesito em chamar o pessoal, mas vai ter de ser. É que esta é uma experiência quase limite, mas só quase porque até é gira. E eles chegam aos magotes, os meus colegas de trabalho, munidos de sugestões e empurrões na porta. Estão a ser uns queridos e eu até fico toda babada com tanta atenção. Sei que estão todos entusiasmados com a quebra da rotina. "Só a Silvia para lhe acontecer isto". É. Só eu. Riem e empurram a porta, apagam-me a luz, e experimentam outras chaves..."Acendam-me a luz!"...E não conseguem mesmo abrir a primeira porta...porra, fiz mesmo um belo serviço. Sento-me e penso. Não tenho mais nada para fazer, e o cérebro começa a brotar ideias. Tento recordar-me de todos os episódios de MacGuyver a que assisti na adolescência e tenho a certeza de que ele conseguiria sair daqui. Não tem uma única janela, só mesmo um respirador fraquinho. Está abafado aqui dentro. Talvez devesse dormir para não gastar o oxigénio todo...Lá de fora, o pessoal já desistiu de tentar abrir a porta, o patrão chamou o serralheiro e, de vez em quando vem certificar-se de que ainda respiro. E respiro. Não tenho razões para não ficar calma. Um dia eu saio daqui... um dia, quiçá, talvez à noite.
Mas não deixa de ser um espaço agradável, bem desenhado. A importância da arquitectura e dos pormenores contribui imensamente para alguma dignidade desta situação. A ficar presa numa casa de banho, a da agência não é a pior de todas. Reparo nas juntas dos azulejos e do chão. Na solução da iluminação e do lastro negro em torno do respirador. Tá sujo. Volto a olhar para a porta com a expressão de cientista em busca de uma revelação eurékica. Tiro um gancho do cabelo - vi isto em imensos filmes - e começo a usá-lo para escarafunchar a fechadura. À falta de um cartão de crédito é assim que se faz...Eu sei, eu vi. No fundo, até me divirto com isto. Começo a tirar os parafusos do puxador, mas o puxador não tem nada a ver, além de que funciona na perfeição...é a parte trancada de baixo que tem um enorme trinco atravessado. Fechei-me com duas voltas e ainda por cima fechei a porta da entrada para o lavatório... estou trancada, não uma, mas duas vezes. Sempre achei se alguma coisa vale a pena fazer, então há-que fazê-la convictamente.
Deviam ser umas cinco e meia quando esta minha aventura começou. Disse à Sandra que ia fazer uma coisa que ninguém podia fazer por mim. E ela adivinhou o que era. Mas agora já não ouço quase ninguém lá fora. Já deve passar das seis e o pessoal começa a ir embora. Alguém se despede de mim, batendo na parede e dizendo "Até Quarta, Sílvia!" Subitamente a Silvia mora aqui. Olho em volta e procuro uma solução. Tenho dois desodorizantes ambientes e mais uma daquelas arvorezinhas cretinas pendurada numa das ferragens da porta e que já deve estar ali há uns anos. Se esta virasse a minha casa, aquela seria a minha árvore de Natal.
Ontem mesmo, o pessoal da capoeira mudou o meu apelido para Pingo Encravado (há mais sobre esta história mas jamais será revelado), e não é que a coisa pegou? Hoje a Pingo ficou encravada na casa de banho...Precisava de uma caneta. Vim mesmo à casa de banho completamente despreparada. Nem uma caneta, nem sequer para escrever SILVIA ESTEVE AQUI, nem um bloquinho, nem sequer um talão de multibanco para olhar, um rádio para ouvir, uma revista...e costuma haver revistas aqui, mas não, hoje não... Tá-se bem...A sensação é a mesma de quando se desliga a televisão. O cérebro começa a pensar e os sentidos apuram-se. Ouço a vizinha de cima a ir à casa de banho, os saltos dos sapatos para trás e para a frente, ouço música lá fora, a água a correr nos canos... pergunto-me que horas serão, que dia é...em que ano estamos. Aqui está abafado. A ventilação é mesmo fraquinha. Preocupo-me em reduzir o consumo de oxigénio, e penso naqueles mergulhadores que ficaram horas à deriva no mar à espera de serem salvos. Haja paciência. Ao menos aqui está sequinho....Se eu tiver de passar a noite aqui, qual seria a melhor posição?... Hmm. Isto dava uma grande história para o telejornal da TVI: "Retiro Criativo Quase Termina em Desgraça" ou "Redactora Criativa Barricada em Casa de Banho de Agência de Publicidade Reclama Abertura de Portas", ou "Criatividade Fechada a Sete Chaves em Agência do Porto". Tou com sono. E começo a ficar impaciente. Ando de um lado para o outro, mas só consigo dar dois passos em cada direcção. Isto é mesmo pequenino. Sinto que podia até fazer algum exercício, plantar uma bananeira, mas não há espaço e sempre podia cair e quebrar o pescoço...aí sim abriria o jornal da TVI. Encosto-me à parede e olho os azulejos seguindo as linhas de perspectiva que não vão até ao tecto. Imagino os trolhas que assentaram isto. Fizeram um belo trabalho, sim, sim. Se arrombarem a porta, onde é que me arrumo? Sento-me no bidé para não ficar sentada na sanita. Com o tampo fechado a sanita é mais confortável. Até me apetece "ir à casa de banho", mas não posso. Aqui não. Aqui é onde eu moro. Finalmente compreendo os porquinhos (sim, os suinos, mesmo) que não fazem as necessidades no sítio onde comem ou vivem. Aqui é igual, apesar de não haver uma frincha por onde se pudesse passar uma bolacha inteira. "Tirem-me daqui!", desabafo entediada, mas ninguém me ouve, e ainda bem, porque tenho de me manter calma e paciente. Tenho de os ajudar a ajudarem-me, senão eles passam-se. É impressionante. Estou mesmo fechada aqui dentro e não tenho como sair. Será que é assim que se sentem os prisioneiros de guerra?...o cenário de selva asiática passa-me pela cabeça. Escura, húmida, cheia de tailandeses esquisitos e eu desaparecida em combate...Ai, tenho que me entreter com alguma coisa. Penso em desfazer os ambientadores e usar o plástico para conseguir concretizar a fuga...mas detesto aquele cheiro intenso nas mãos. Preciso de outra solução. Olho para as torneiras, canos...será que posso desmontar alguma coisa ou é melhor ficar quieta? Volto à carga com o meu ganchinho maravilha e penso que deveria aprender a estroncar portas só para me preparar para situações destas. Reparo que o buraco da fechadura tem um anel de protecção (uma coisa puramente estética) que se eu conseguisse remover me daria acesso aos parafusos. Depois era só tirar os parafusos e remover o canhão...não faço ideia se os pressupostos estão correctos e se o plano brilha de todo. Mas tento. Tenho escrúpulos em arranhar a pintura da porta, até porque mais cedo ou mais tarde, me vão tirar daqui. Eu é que me quero armar em heroína porque não tenho mais nada que fazer. Desta vez é que vai for. E faço força para que seja, mas o gancho parte-se e corta-me a mão. Agora sangro...aaahhhh. Drama! Luzes! Acção!...TVI? Água a correr no bidé... Já passou...acho que não vou precisar de pontos. À minha frente, um rolo de papel higiénico começa a tornar-se mais interessante que um ovo kinder. Vou fazer bonequinhos. Enrolo duas ou três folhas e faço uma palmeira. molho a base...gosto de ver a água a correr no bidé...que engraçado, faz bolhinhas. Na Austrália, a água escorre no sentido inverso. Não posso molhar demais senão desfaz-se. Agora faço uma barbatana de tubarão. A minha ilha fica no tampo do cesto dos papéis. Já tenho dois barquinhos, mas até era fixe se eu construisse uma jangada...O meu chefe vem mais uma vez verificar como estou e informa-me que o serralheiro, chamado talvez há mais de uma hora, já vem a caminho. Está na autoestrada. Este papel é muito fraco e deixa imensos resíduos nas mãos. Também não deve ser grande coisa até para aquilo que foi concebido. Ouço a porta da agência a abrir-se. Pena. Acho que não vou ter tempo para acabar isto. Pego em dois parafusos que tirei do puxador da porta e coloco-os sob a imitação de um jornal dobrado, a fazerem de perninhas. Pronto. aquilo sou eu, à sombra da bananeira, numa ilha deserta à espera de salvamento.
Tá-se bem. E agora ouço as vozes do patrão e do serralheiro a perguntarem-se quantas voltas tinha dado à chave. Duas. E porquê que fechou as duas portas? Porque guardo bem os meus tesouros. Depois começa o berbequim a esburacar a porta, e finalmente os passos do outro lado desta porta...nem acredito. Ah, o velho truque do cartão de crédito, neste caso uma fita de plástico verde (desconfio que seja um pedaço de garrafa de Frisumo...é só tecnologia de ponta!), mas não é o trinco do puxador que não abre, senhor, é mesmo o trinco da chave. Não resulta. O técnico especializado em sistemas de segurança e retenção de espaços desliza então uma faca de mesa, enferrujada e com restos de cola, por debaixo da porta, e grita para mim: "Agarre na língua! Com a faca! Agarre na língua!"
Huh?! A minha mãe não deixa.
Eu, de faca na mão e com o patrão do outro lado da porta, com um profissional a tentar libertar-me e ao fim deste tempo todo, esforço-me por não fazer piadas. Agarro na língua do trinco enquanto trinco a (minha) língua para não dizer um disparate (não resisti). Ele manda que eu agarre na língua (termo técnico, conhecido entre os meros mortais que ficam presos na casa de banho como o trinco da fechadura) com a ponta da faca e a force para o lado. Com absoluto respeito pela integridade da madeira, sigo as instruções e facilmente abro a porta. Mas é só isto que é preciso? Tinham sido necessárias duas horas e meia para que me fizessem chegar os meios para eu eu própria me libertasse!? Oh pá! Eu sou muito à frente. Sinto-me orgulhosa de mim mesma. Libertei-me QUASE sem ajuda. Agora já sei. Sempre que precisar de ir à casa de banho, levo uma faca de cozinha para agarrar a língua. E vou lá abaixo ao café.

É para isto que os amigos servem.

Para me ligarem quando preciso que me liguem. Para captarem as minhas ondas mentais, e responderem aos apelos mudos que lanço quando quero um mimo, um pedacinho de atenção, um sorriso mesmo que distante. Para me perguntarem aquilo para que preciso de ouvir as minhas próprias respostas. É para isso que os amigos servem.

O regresso dos gajos.

E das gajas também. Não penseis que este post é sexista.
Eles (e elas) voltaram. A encher as estradas, a eclipsar os lugares de estacionamento, a fazer muito barulho e a ocupar muito muito espaço, já todos stressados (e stressadas) porque as próximas férias são só para a próxima.
Quem trabalha em Agosto ( que é o meu caso) habitua-se depressa demais à cidade vazia, à autoestrada desimpedida, aos lugares para estacionar à fartazana, aos 15 minutos que se demora a ir da Maia a Gaia com passagem pelo Porto, sempre a abrir...Ai, o stress do fim das férias dos outros começa a irriçar-me o pêlo. Tenho de me pôr ao fresco.

terça-feira, agosto 24, 2004

Silvia Sem Filtro #5

Hoje estou contentinha e só por isso mando este post. Parece que tudo o que estava fora de sítio está novamente a arrumar-se. O tempo melhora, os amigos revelam-se, as férias aproximam-se. Hoje até fiz o trabalhinho todo num instantinho. Hoje estou bem. Por isso, posto para me lembrar disto nos dias em que estiver menos bem.

À pressão.

Portugal é um país imenso em encantos e fabuleiras. Quem tem carro vai passear, quem não tem também vai. Eu não sei o que hei-de escrever. O pessoal está todo de férias a apreciar as maravilhas de Portugal e do estrangeiro, e eu estou aqui fechada a fazer de conta que sei tudo sobre a experiência de conduzir um BMW pelos caminhos de Portugal. Nem de BMW nem pelos caminhos de Portugal porque o meu carro é velho demais para eu me aventurar para longe da civilização. Justiça seja feita, o meu boguinhas conserta-se até com fio do norte, uma caninha e dois godos do rio. Não é como certos veículos de luxo que, quando páram, páram mesmo e já só de lá saiem de porta-aviões. Mas o que eu queria era escrever sobre Portugal umas quantas pataquadas que não soassem a pataquadas. Portugal é bonito, sim senhor, e vale a pena conhecer. Especialmente ao volante de um BMW que vossa mercê nunca sonharia em cobrir de pó. Não faz sentido. Eu não compraria. Eu não leria, mas tenho esta ambição de tentar que até os textos mais imprestáveis contribuam para alguns segundos de imensa felicidade na mente dos meus leitores, por mais iliterados que sejam, ou tão literados que quase não encontram nada para ler, pelo menos nada que seja digno de se juntar, em posição invertida, no cucuruto das respectivas retinas. Perdoem-me por existir, mas ainda assim vão ter de aguentar comigo. Quanto mais escrevo mais me afasto do assunto em epígrafe e isso está-me a custar. A mesa magoa-me os antebraços. Acho que estou a ficar com a pele sensível. E Portugal tem encantos por demais. E Portugal é um lugar comum. Porque quem conduz um BMW fora da cidade ou da autoestrada ou é emigrante ou tem família na aldeia. Só se tiver um todo-o-terreno, mas este discurso não é para off-roaders, ou como diria um colega meu que abomina o uso de estrangeirismos, para os fora-estradistas... Nem para post (postal) esta bosta presta. Vou começar de novo. Não vou, não quero. O pessoal vai almoçar, mas eu acho que vou ficar aqui a lutar com uma verborreia que ainda não deu frutos. Estou com fome e já não como amoras há muito tempo. Descobri mirtilos no meu jardim ontem há noite quando cheguei a casa. Quando era miúda tinha amoras no fundo do meu quintal e roubava framboesas do quintal do vizinho. Achava que eles deviam ser mais finos que nós porque cultivavam framboesas quando nós tinhamos a sorte de as nossas silvas darem amoras. E agora lembro-me que uma vez nos perdemos entre Lamego e a Régua e fomos dar uma volta imensa...estávamos num Jimny, acho (note-se que este pormenor do carro é a minha ponte com o assunto do texto: carros), e parámos para cumprimentar um velhinho com um burro. Foi aí que descobri que, depois dos cães e dos gatos, os burricos são os meus animais favoritos. Têm um pelinho muito, muito suave que quase que dava para fazer um anúncio a um champô tipo Johnson...só duvido que o cliente aprovasse o conceito. E agora vou postar esta treta, e volto a tentar depois de almoço. Beijos a quem leu até aqui.

1974, Geração Trintage #7

-"Olha..."
Param uns segundos para terem certeza do que vão perguntar e imaginar todas as consequências deste acto de grande atrevimento no qual se vão lançar absolutamente sem rede.
-"Tu..., tu não gostavas de ter filhos?...". Um momento de imensa intimidade interpretado com mestria no tom mais casual. Antes que eu possa responder, corrigem o atrevimento.
-"Acho que davas uma grande mãe. Tens assim um jeitinho especial. E os teus filhos iam ser muito à frente..."
Eu ainda só tenho tempo para desdobrar o sobrolho, esboçar um ar de espanto, sorrir e procurar as palavras para... quando rematam:
-"Mas, olha, tens de te despachar, senão depois já não dá...!"

Ai. Recorrente.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Bolinha no canto superior direito. º

Tenho um filme a passar-me entre as orelhas. É quase non-stop e os principais momentos flasham, sem que mais ninguém os veja, perante os meus olhos que lutam por ficar abertos. Daí a minha expressão ausente. Se me virem a tapar os olhos, não me interrompam. Estou para fora, a olhar para o que se passa cá dentro.

1974, Geração Trintage #6

Ainda oscilo entre a ingenuidade de uma criança e assertividade esperada de uma miúda subitamente quase nos 30, conservando, no entanto, a irreverência inconsequente de uma adolescente tolinha. Esta situação rende-me alguns conflitos de espírito, a seu tempo debelados pela maturidade que desponta, e logo substituídos por sentimentos de orgulho e grandes, grandes recordações. Viva eu.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Alto clima.

É Agosto e chove. É Agosto, mas parece Novembro, e Novembro é o meu mês favorito. Por isso, está-se bem. Vou de férias em Setembro, já achando que vou fora de tempo. É que depois de passada a expectativa (gorada ou não) do delicioso calor do Verão, já só espero pelos primeiros dias de Novembro, os mais lindos do ano.

quarta-feira, agosto 18, 2004

O meu sorriso voltou.

Simplesmente não consigo escrever sobre isto. É algo demasiado pessoal, imenso, quase incodificável. É algo que se sente e se partilha e se transmite e não se consegue esconder, mas impossível de pôr por palavras inteiras. Quem lá está, sabe. Quem está de fora, pensa que vê.
"Gunga é meu/Gunga é meu... - Vamo lá moçaaada!!"
Vamo, professor.
(/°

terça-feira, agosto 17, 2004

(in)Consciência política.

Apercebi-me hoje mesmo de que não tenho qualquer consciência de que o Primeiro Ministro de Portugal seja o tio Santana Lopes. Sem a preparação psicológica dos meses de campanha eleitoral, dos risíveis tempos de antena, o torce-torce por este ou aquele candidato, o alinha-a-uma-cor-alinha-a-outra, e sem a maratona cada vez mais sprintada da noite dos resultados, não me consciencializei de que o dito senhor das revistas cor-de-rosa seja actualmente o chefe do Executivo. É que entre o dito e o Zé Castelo Branco, a importância por mim atribuída é exactamente a mesma.
Já agora, sr. Primeiro Ministro, sempre poderia fazer uma gestão em sinal aberto, fazendo companhia à sua Cinha Jardim, no Big Brother da lavoura profunda. Podia ser que, ao menos assim, o povo o adoptasse como fez ao Zé Maria.

Caderno de linhas.

Li num livro, cujo nome não me apetece citar, que todas as pessoas que encontramos ao longo da vida e que, de algum modo nos tocam, têm uma mensagem para nós. Mais ou menos truncada, mais ou menos compreensível, só depende da nossa capacidade e abertura de espírito para a captarmos, a valorizarmos e a integrarmos no nosso desenvolvimento pessoal. Eventualmente, quando a mensagem representa uma peça importante para esse desenvolvimento, ela pode surgir-nos várias vezes ao longo da vida, trazida por várias pessoas, codificada em vários acontecimentos. Tal qual um sonho recorrente, só quando a formos capazes de decifrar é que evoluímos como pessoas. Li num livro que fez doutrina, mas doutrinas à parte, parece-me que faz sentido, e isso basta-me.

segunda-feira, agosto 16, 2004

(...silêncio...)

É quando não tenho mais nada a dizer que sei que as coisas vão mesmo mal. É quando desisto de achar que posso mudar o mundo, as pessoas, ou sequer confiar nelas para que façam o que é correcto, que sei que acabou tudo. Acabou o meu interesse, a minha força, a minha transigência, a minha dedicação. Já não encontro soluções dentro de mim, não ouço argumentos na alma que me façam continuar. Já não reúno energia para mexer um músculo. Acabou tudo, só ficou o silêncio. Acabou minha energia, renovável só até um certo ponto. Depois disso...não sei.
Vou-me embora. Não me incomodo mais.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Um explosão!

É disso que eu preciso: uma explosão de sabores, de sensações que me despertem os sentidos e me façam vibrar... (em que anúncio de refrigerante/iogurte/batatas fritas/detergente para a roupa/telemóvel/hi-fi flat panel/creme hidratante é que eu já li isto?) Apetece-me. Maracujá. Apetece-me um maracujá, doce, perfumado, ácido, pequeno e imenso qb. E um mergulho no mar da Praia Verde. Fresco, salgado, total. Imenso, também.E um abraço sem data para terminar. E muitas festinhas na cabeça.
E uma sesta numa tarde quente, numa casa sobre a praia, com as janelas abertas e uma brisa que me ondula os cabelos.
Ah...e nenhuma data para voltar.

quinta-feira, agosto 12, 2004

Ciumeira instalada.

Ando com uma tremenda ciumeira. Mas é que ando completamente tola com ciúmes! São muitos mesmo, e não sei o que fazer com eles. Ou isso, ou mimalhice frustrada. Nah.. é ciúmes, mesmo. E de muitas coisas, mas nenhuma delas justifica realmente os ciúmes que sinto. Porque as coisas são como são e como têm de ser, e não é falha minha nem erro dos outros. E nem sequer existe a alternativa de me afastar. Tenho de lidar com isto. É assim. Já tentei racionalizar e convencer-me de que não existe razão. Mas é mentira. Existe razão, sim senhora. Várias até! E a principal dessas razões é que sou humana, magnanimamente imperfeita e abundante de sentimentos. Que não controlo! Gosto de algumas coisas ( algumas tão pequeninas e aparentemente insignificantes, mas com um poder ciumérico imenso, acreditem! ) e não gosto de outras, e gosto de coisas que não posso ter e não consigo deixar de gostar daquilo que, não tendo, não preciso ter, e que até rejeitaria se tivesse, mas no entretanto, sinto ciumes. Ok perdi-me, mas faz parte desta cegueira tola. É irracional, mas é verídico. Pronto, admito. Estou com uma infantilíssima crise de ciúmes.
...hmmm.
Já me sinto melhor. Mas ainda tou verde. Humpf.

Silly season makes Silvia silly

É mesmo. Há muito que não blogo nada de jeito. Não sei, não me apetece. Ando assim, com falta de incentivo, de energia, de fé, de senso crítico. Ando em baixo. Aqui há uns tempos ainda escrevinhava uns quantos comentários inspirados em blogs alheios, mas agora nem isso me motiva.
Sinto-me como um cãozinho deixado na rua e que já latiu tudo o que tinha para latir. Agora só resta fazer olhinhos doces a quem passa esperar que alguém me adopte... E depois fugir a correr muito. (É uma imagem que tem tudo a ver com a altura do ano...os cãezinhos abandonados.) Francamente não sei o que fazer comigo mesma. Já pensei em dedicar-me aos Xanax, mas sem sei para que esses servem, além de que não gosto de tomar comprimidos nem que sejam vitaminas.
Assim, treino tanto quanto posso, ando de carro com janela aberta quando chove - e sabe tão bem - , invento passeios com a cadela, falo mal para a minha mãe, combino saídas e depois cancelo, ou nem planeio e vou ao sabor do que acontecer. Ando parva e sem vontade. Gasto dinheiro com merdas e não invisto no que pode valer a pena. Faço o mesmo com as pessoas. Nem blogo de jeito. Isto sim, é grave.
Mas eu sei o que é... é falta de contacto. Ando a pairar sobre chão que não me interessa, por isso não me apetece agarrar nada... (esta imagem também é gira). Estou mesmo parvinha. Silly.
Silly Silvia strikes again. Vou para casa que a mamã fez o meu prato favorito.

terça-feira, agosto 10, 2004

Coador#7: Objectos

Objectos. Tralha. Ocupam-me o espaço físico e o mental.
Dispenso. Prefiro pessoas, viagens e animais.

sexta-feira, agosto 06, 2004

The Rat Race.

Se andamos todos à procura do mesmo, como é que ninguém se encontra?

quinta-feira, agosto 05, 2004

Alguém?...

Ora, se faz favor, agora é a minha vez.
A partir de agora, alguém paga as minhas contas, trata da minha imagem, me penteia, me hidrata, me massaja o corpo e a alma. Todos os dias ou quase sempre, me surpreende com coisas que sabe que gosto/desejo/sonho mas não peço. Alguém fica atento às minhas palavras, à entoação delas, àquilo que digo e ao que não preciso de dizer. Alguém toma conta de mim, me abraça, me afaga, mas não me abafa. Alguém fica sempre perto, sem ficar em cima. Alguém é mais perfeito que eu, me corrige e me ensina aquilo que não sei. Alguém me leva a passear e não me pergunta onde é que vamos, acertando, contudo, no destino perfeito. Alguém tem aquele efeito em mim, me faz rir, me estimula a inteligência, me provoca, me incentiva, me apoia, me critica, mas não julga.
E agora, há alguém aí?...

quarta-feira, agosto 04, 2004

Eu quero praia!

Estou práqui, depois do prazer, digo, do trabalho, à sombra das luzes apagadas do gabinete, à espera que seja hora de me ir embora. Ligo aos amigos e dizem-me que estão na praia e que ainda bem que eu liguei porque iam mesmo mandar-me uma mensagem a dizer para eu ir lá ter. Oh porra!
Tenho que aproveitar melhor os fins de semana...

segunda-feira, agosto 02, 2004

Frutinho,

És o meu melhor amigo. E és tão meu amigo quanto não poderias ser mais coisa nenhuma, porque somos tão diferentes e chocamo-nos muito, mas é justamente aí que sentimos o quanto nos temos um ao outro. Somos incapazes de desistir um do outro, de não fazermos as pazes. Quando um berra, o outro espera que passe e depois fica tudo bem. Quando o outro se passa, o outro serve de muro de lamentações, chão inabalável, refúgio. Não somos mesmo nada perfeitos, mas trabalhamos para lá chegar, sem compromisso, sem data para chegar. Vamos passo a passo, tropeção a queda, e um puxa o outro. E quando erramos, falamos tudo o que sentimos. Nunca fica nada por dizer, nunca fica nada por esclarecer. E é como cimento. Cada episódio, fortalece mais. Apesar disto, não dependemos um do outro, não ocupamos espaço, nunca nos bastamos completamente. Aquilo que temos não se vê por fora. É um mundo tão só nosso que, quando dividimos o nosso tempo com outros, chegamos a ter saudades de estar sozinhos. Fazes parte de mim. Gosto muito de ti, frutinho.

1974, Geração Trintage #5

Há alturas na vida em que tudo muda. Muda o emprego, muda a casa, muda a cidade, ou não muda nada disto, mas muda o mais importante: mudam as pessoas. As pessoas à minha volta mudaram. Ou fui só eu que mudei.
É terrivelmente triste chegar à conclusão que não se tem um exército de amigos. Mas também é terrivelmente libertador sentir que não há ninguém a desperdiçar o nosso tempo.