Pela primeira vez, Lisboa humanizou-se para mim. De todas as 782549 vezes em que passei pela capital, confesso que sempre achei que tinha betão a mais, espaços verdes ressequidos e demasiados figurantes inexpressivos a atravessar nas passadeiras e a encher os túneis do Metro.
Desta vez, foi diferente. Desta vez, para começar, tinha alguém à minha espera na Estação do Oriente. Melhor ainda, tinha alguém à minha espera na plataforma, logo quando eu cheguei. Acreditem que faz toda a diferença. O cenário já não é de betão, tubos e fibra de vidro, mas sim de sorrisos, abraços e delicadezas. O Vasco da Gama já não me pareceu um assalto consumista às minhas parcas posses nortenhas, mas antes um centro comercial que eu consegui evitar com êxito.
A viagem era de trabalho, mas revelou-se uma viagem de pessoas. Estive com muitas pessoas, pessoas importantes e pessoas que me disseram coisas importantes, pessoas cujos exemplos foram importantes. Pessoas, pessoas, pessoas, e isso foi muito importante. Desde quem me recebeu em sua casa da melhor maneira possível, até à velhinha que me agarrou no braço e cuidou de mim no autocarro para que eu saísse na paragem certa porque "eu era do Porto", aos rapazes atenciosos no cybercafé no Bairro Alto, à amiga que me fez companhia no Metro e no supermercado e na espera do comboio, àquela pessoa que eu desejava ver há mais de ano e meio e que tive a honra de o encontrar num dos momentos mais bonitos da vida dele, áqueles que me receberam nas suas agências e que me disseram o que eu precisava escutar e me apontaram nas melhores direcções, sendo isso justamente o que eu buscava neles.
Começar a perceber e tirar o melhor partido do sistema de transportes colectivos também me deu uma sensação de maior integração e independência face à cidade (obrigada às velhinhas, sobretudo). Já me oriento bem, e até já tenho zonas onde gostaria de morar, avenidas que gostei de percorrer a pé, enquanto pensava no resultado de conversas que tive. E esteve frio e choveu. Até nisso, Lisboa me pareceu mais confortável, mais fácil de lidar, mais próxima do meu habitat natural.
Desta vez, Lisboa humanizou-se para mim, eu descobri que até podia viver ali.
Afinal há vida em Lisboa, muita vida, tanta vida que o Porto me pareceu muito calmo quando regressei.
Obrigada a quem me recebeu aí. Valeu. Mesmo.
Agora estou de passagem. Só não sei por onde.